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«A curiosidade de visitar o novo espaço poderá trazer até nós mais pessoas»

António Oliveira, presidente da direcção da AENEBEIRA

P – A requalificação do campo da Feira permite oferecer melhores condições a quem vem à feira, tanto para vender como para comprar?

R – Exactamente. A requalificação deste espaço permite naturalmente dar melhores condições, quer aos expositores e agentes económicos que estão na Feira, quer a quem a visita. O facto de todo o campo da feira estar pavimentado melhora claramente as condições de utilização.

P – Qual foi o investimento neste espaço?

R – Andará muito próximo dos dois milhões de euros.

P – É um grande investimento para o futuro da Feira de São Bartolomeu?

R – Não é só para o futuro da Feira de São Bartolomeu. Permite melhorar as condições oferecidas para a realização desta feira anual, mas permite também requalificar um espaço que hoje é o centro da cidade. Neste momento era uma nódoa negra termos aqui este campo sem estar tratado do ponto de vista urbano. A sua requalificação impunha-se e com o tempo vai ter outra utilização, vai ser uma zona de lazer, de estacionamento e que nos vai permitir futuramente ordenar também o trânsito e o estacionamento dentro do Centro Histórico.

P – Poderá vir a ser estacionamento pago?

R – Eventualmente, será uma questão a discutir. Terá de haver para os residentes algum estacionamento gratuito, mas nalgumas vias poder-se-á colocar a hipótese de haver estacionamento pago, nomeadamente no Largo do Município, por exemplo.

P – O que é que muda em termos de funcionamento do espaço?

R – O lay-out da feira pode sofrer ao longo do tempo algumas variações, mas elas estão condicionadas pelas infra-estruturas eléctricas no subsolo, rede de águas e de saneamento, para a zona das tasquinhas e dos restaurantes. No entanto, vamos fazer algumas alterações não só porque o campo no sentido Portas d’El Rei – Parque Municipal vai ter uma grande avenida que automaticamente vai reestruturar todo o sistema da feira, para além de ter um sistema de refrescamento com uns nebulizadores que vão criar uma espécie de pequeno nevoeiro que vai refrescar o espaço e que ficará extremamente interessante. Vamos colocar no campo de cima o artesanato que não ficará junto ao pavilhão multiusos, mas sim no centro da Feira, entre as tasquinhas e as diversões. Os artesãos queixavam-se de que os objectos em exposição se deterioravam com o pó, mas agora esse problema deixou de existir. Há outros expositores que colocámos na zona mais próxima do pavilhão e houve algumas alterações, mas basicamente o que apraz salientar é a comodidade. Iremos agora também qualificar e melhorar o campo de baixo onde se realiza o mercado semanal. Para melhorar as condições de higiene e de sanidade do próprio espaço vão ser construídas umas instalações sanitárias por detrás da Repsol e vão ser reabilitadas as instalações existentes no parque municipal, permitindo a sua utilização, quer pelo interior do parque, quer pelo parque de estacionamento.

P – Quais as expectativas para mais uma edição da Feira de São Bartolomeu c estas mudanças?

R – As expectativas são as habituais, os 130 a 150 mil visitantes. Provavelmente, até a curiosidade de visitar o novo espaço poderá trazer até nós mais pessoas, mas partimos com as expectativas habituais em relação ao número de visitantes. Nos expositores temos números muito semelhantes em relação aos anos anteriores. Temos 270 espaços de exposição porque há aqui stands interiores, e stands exteriores, lotes para exposição de viaturas, maquinaria agrícola e teremos presentes cerca de 175 a 180 agentes económicos em toda a feira.

P – O facto de haver crise não impediu que conseguissem atrair esses agentes económicos?

R – Atraiu na mesma, mas se recuarmos há quatro, cinco anos deixávamos ficar de fora expositores porque já não havia mais espaço para mais. Não foi o que aconteceu este ano, em que respondemos à procura. Já em relação aos expositores na área exterior se mais espaço tivéssemos para o sector automóvel e de maquinaria agrícola, mais haveriam.

P – Num contexto de crise económica, acredita que a Feira pode ser uma alavanca para ajudar ao negócio dos expositores?

R – Penso que sim. Aliás, em momentos de crise, as empresas têm de utilizar todas as estratégias para se exporem mais e estarem presentes mais próximas dos consumidores.

P – Em relação ao cartaz, quais as noites em que são esperadas mais pessoas?

R – Penso que as noites com mais gente serão as de Emanuel, Quim Barreiros, Santos e Pecadores, Just Girls e Irmãos Verdades. Haverá dias “mortos” como o dia 17, onde são esperadas cerca de 3.500 pessoas, mas teremos aqui dias em que teremos 6, 7, 8, 9 mil pessoas. Teremos certamente uma média de 5 a 6 mil pessoas por dia. A Feira é organizada pela Trancoso Eventos, que tem a ver com o processo de animação e os espectáculos, e pela Aenebeira, que tem a ver com a vedação e comercialização do espaço e a montagem da feira em si. A Aenebeira tem um orçamento de 120 mil euros de custos previstos, IVA incluído, enquanto a Trancoso Eventos tem de 177 mil euros. Ou seja, o total do orçamento da Feira ronda os 297 mil euros.

P – Quais as receitas previstas?

R – Pensamos que o evento tenha cerca de 165 mil euros de receitas. Estou a falar de bilheteiras e receitas de expositores, que andarão nos 110 mil euros, enquanto as receitas dos espectáculos de bilheteiras andarão nos 55 mil. Isto numa postura pessimista para não sermos surpreendidos.

P – Passados tantos séculos, a feira continua a afirmar-se na região, como explica isso?

R – Se nada tivéssemos feito pela feira de S. Bartolomeu, ela já teria desaparecido. Esta feira teve ao longo da sua história dois momentos de tentativa de reestruturação. O primeiro foi no final dos anos 50, princípios dos anos 60, e o segundo começou em 1990, quando a feira estava praticamente a desaparecer. Hoje todas as feiras francas que se mantêm introduziram uma componente expositiva e lúdica com espectáculos e diversões. Foi essa aposta que fizemos e pensamos que nos próximos anos que esta feira, à semelhança de outras que existem no país, que vai seguramente manter-se. Esta é uma das feiras francas mais antigas do país desde 1273 e o seu papel mantém-se, hoje com uma forma mais expositiva para as empresas se darem a conhecer, a feira de artesanato, que é uma coisa que as pessoas apreciam sempre muito, e a componente lúdica com as diversões e a gastronomia. Este é um modelo que esperamos consolidar com esta requalificação do espaço e obter um sucesso maior nos próximos anos.

P – A Feira de São Bartolomeu é uma referência económica na cidade, tal como a Feira do Fumeiro, também organizado pela Aenebeira. Há algum outro evento que possa ser projectado para o futuro?

R – A projecção comercial de Trancoso já vem desde o século XI e tem muito a ver com o facto de durante séculos aqui ter permanecido uma comunidade judaica. Temos uma grande tradição de feiras e de mercados semanais. Temos seguramente o mercado semanal mais forte da região, não só no distrito da Guarda, mas também do de Viseu. É dos poucos mercados semanais que ainda mantêm uma certa pujança e é importante para Trancoso pelas pessoas que aqui se deslocam. Temos outra feira anual que é a Feira de Santa Luzia, essa sim um pouco esgotada e a precisar de alguma reestruturação. A título pessoal defendo que temos que encontrar para a Feira de Santa Luzia um figurino idêntico àquele que foi encontrado em Mangualde com a Feira dos Santos que já não é no dia 2 de Novembro, mas sim no primeiro fim-de-semana desse mês. Temos que encontrar um figurino que passe por dizer que é no primeiro ou no segundo fim-de-semana de Dezembro. É uma reflexão pessoal mas que é partilhada por outras pessoas. Queremos montar uma estratégia para que as pessoas façam as suas compras de Natal. Teremos que lhe dar também alguma componente lúdica e expositiva, não nos moldes da Feira de S. Bartolomeu, mas porque não ter um evento relacionado com artesanato?

P – Além das feiras, quais os aspectos mais importantes para Trancoso em termos económicos?

R – Seguramente o conjunto de actividades na área do agro-alimentar, desde a queijaria artesanal às duas unidades de lacticínios, à produção e fabrico de enchidos e fumados que tem uma actividade significativa com várias unidades licenciadas. Nos lacticínios, temos a Lactovil que é a maior unidade da região e uma das maiores do país, e temos outra unidade que apenas labora com leite de ovelha que é a Lacticôa, em Vila Franca das Naves. Temos também um conjunto de pequenas queijarias da região demarcada da Serra da Estrela e também fora dela, bem como as salsicharias artesanais e outras de cariz industrial, a mais conhecida é a Casa da Prisca que diversificou a sua actividade para o mercado das compotas com uma presença a nível nacional e até internacional. Portanto, o sector agro-alimentar é muito importante para o concelho de Trancoso e o Turismo terá de ser forçosamente a terceira grande área económica para o concelho.

P – Uma certa fragilidade a nível de acessibilidades tem sido uma barreira ao desenvolvimento de Trancoso?

R – Seguramente que sim e o facto de dentro de ano e meio termos auto-estrada até Trancoso vai seguramente reforçar a atractividade. A estimativa média do tempo que se poupa numa deslocação Trancoso-Guarda é de 12 a 15 minutos, tal como a Viseu. Também há a questão da segurança e da comodidade. Trancoso ficará a ganhar imenso com a auto-estrada e reforçamos a nossa atractividade.

P – O que acha de uma eventual redução do IVA e do IRC para esta região?

R – Não vai ser fácil isso acontecer. Temos aqui uma dupla situação que é em primeiro lugar a concorrência desleal em que ficamos colocados em relação ao mercado espanhol aqui bem ao lado. Isso é notório nos combustíveis, mas também no gás. Não consigo perceber porque é que uma botija de gás na nossa região continua a ter uma taxa de IVA diferente da aplicada ao gás natural, isto a populações que não têm acesso ao gás natural. Já muita gente protestou mas até hoje ainda não houve nenhuma alteração. Penso que uma das formas com que se pode vir a atrair investimento e a deslocalização de actividades para o interior é através da oferta de alguma discriminação fiscal. Sou claramente favorável a essa estratégia e estou convencido que mais cedo ou mais tarde vamos conseguir isso.

P – Como está o projecto do parque empresarial no futuro nó do IP2, na zona de Carnicães?

R – É um projecto que poderá vir a andar, mas que neste momento está suspenso. Houve intenções da Câmara de Trancoso nesse sentido e o actual executivo da Câmara de Celorico também via o projecto de forma positiva, mas isso passa pela execução não só do IP2, mas também por alteração aos Planos Directores Municipais dos dois municípios. Temos estado fortemente empenhados noutro processo que tem a ver com uma alteração ao PDM que está a decorrer neste momento, bem como uma avaliação ambiental estratégica que visa a instalação de um parque ambiental numa das zonas industriais de Vila Franca das Naves. Trata-se de um investimento muito importante para o concelho, criador de emprego no masculino, que é muito mais importante que no feminino porque se fixa muito mais população. É uma actividade económica interessante que vai dar aqui alguma centralidade. Esperamos ter, do ponto de vista do quadro legal, tudo resolvido até ao final do corrente ano e penso que durante o ano de 2010 o investimento arrancará. Estou convencido de que criamos ali umas dezenas de postos de trabalho, directos e indirectos. É bom que se diga que neste parque ambiental há várias unidades previstas e uma pequena zona de aterro apenas para os chamados RIB’s – Resíduos Industriais Banais. Houve uma altura em que surgiu a famigerada ideia de que ali também iriam ser tratados resíduos hospitalares. Nunca esteve nos objectivos dos promotores do parque o tratamento desse tipo de resíduos. Vamos ter ali resíduos da construção civil, desmantelamento de viaturas em finais de vida e um centro de recepção de óleos, que são uma urgência, não só para o concelho de Trancoso, mas para toda a região. Muito do material que ali entra é apenas tratado, reciclado e é reaproveitado, voltando a sair.

«A curiosidade de visitar o novo espaço
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