Após vários anos de visitas fugazes e raras à pequena aldeia de Pêga (Guarda), a histórica ex-deputada do PCP está de volta à sua terra natal para uma estadia de pelo menos um mês. Instalada na casa de família, onde viveu parte da infância e passou «muitas das férias grandes», Odete Santos ainda está a redecorar as diferentes divisões. Acaba de recuperar a casa e só está em Pêga desde o passado dia 21. «Este regresso provisório é um sinal de velhice», comenta à laia de explicação para o que a trouxe de volta às suas origens aos 68 anos de idade.
Há o rebuliço próprio de uma casa recém-recuperada, objectos fora do sítio e um amontoado de livros, ainda empacotados, que a ex-deputada diz ter pressa em ver organizado nas prateleiras. São dezenas. Organiza tudo como se viesse para ficar, mas não. «Isto aqui no Inverno é muito frio», lamenta no seu jeito característico, dizendo preferir o sol e o calor. E já se decidiu: passará os meses frios em Setúbal, onde vive há 58 anos, e o Verão em Pêga. Antes, a casa da família, localizada no “coração” da parte mais antiga, bem ao fundo da estreita Rua da Procissão, «não estava em condições para se poder viver», garante. Agora até já tem serviço de televisão por satélite e Odete Santos está à procura de uma solução para a Internet. «É que aqui não consigo apanhar rede com a minha net móvel», queixa-se, mostrando-se uma adepta das novas tecnologias.
Filha única de professores primários, Odete Santos chegou a morar em Teixeira (Seia) e no Sabugal, acompanhando os pais na actividade profissional. Entre os 7 e 10 anos viveu no Sabugal e as férias de Verão eram passadas com a avó, em Pêga – que hoje tem menos de 200 habitantes. Quando completou 10 anos, os pais decidiram leccionar em Setúbal, cidade que à época já tinha liceu, de forma a garantirem a continuidade dos estudos da filha, sem terem de se separar dela. Terminado o secundário, Odete rumou à universidade e licenciou-se em Direito.
«A terra está muito sem ninguém»
A ex-deputada diz encontrar grandes diferenças na aldeia desde a sua infância e foca o envelhecimento e a desertificação: «A terra está muito diferente, muito sem ninguém», compara. Lamenta que «não se tenha investido no interior», que seja apenas «um ponto de passagem» e considera que «não há uma política de fixação das pessoas à terra». Já nos seus tempos de criança «havia miudagem a dar com um pau» e não faltavam as brincadeiras em grupo, com as primas e as amigas, e «muita animação» na terra. Desses tempos não faltam memórias a Odete Santos, que lembra as corridas de bicicleta e os passeios nas margens do rio Côa, onde se entretia a lavar as roupas das bonecas com as primas. Já a lembrança daquele Verão passado a dançar ao som de dois tangos, sempre os mesmos, fá-la sorrir de saudade: «Era um disco só com dois tangos», explica.
Actualmente, restam-lhe na terra alguns primos. As suas grandes companhias são os livros, a televisão, três gatos e quatro cães. São um Serra da Estrela, um arraçado de Serra de Aires, um Golden Retriever e um rafeiro. Os gatos estão fechados numa divisão porque Odete Santos receia que se percam por «não estarem habituados» à terra, refere, enquanto os cães têm “livre trânsito” dentro de casa e no exterior. Acompanham-na onde quer que vá. «Não mordem», assegura, consciente que, por três deles serem de grande porte, poderão assustar quem a visite e não os conheça. Quando voltar a Setúbal, os animais regressarão também. Cabe tudo dentro do carro: os quatro cães, os três gatos e as malas. Quanto à política, confessa sentir, por vezes, saudades da «intensidade» dos trabalhos da Assembleia da República – ou não tivesse sido deputada durante 27 anos. «Continuo a ter actividade política, embora não com aquela intensidade», adianta Odete Santos, que destaca os «muitos debates» em que tem participado nos últimos tempos.
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