Quem suspeitar estar contaminado com o vírus da gripe A deve ficar afastado das outras pessoas duas semanas – sete dias para confirmar se está doente, outros sete para a doença passar. Resumindo, está condenado a faltar ao trabalho durante metade do mês. Ou como se diz em bom português, bafejado pela sorte. No início até estranhei que não tivessem sido portugueses a inventar esta ideia extraordinária da gripe dita suína. Mas depois lembrei-me do país em que vivo. Para faltar ao trabalho por motivos de doença não é obrigatório estar realmente doente. Às vezes até é contraproducente, porque quem aparece com os verdadeiros sintomas de uma doença pode parecer que está a exagerar e os médicos desconfiam.
No entanto, também é possível imaginar dois cientistas mexicanos a dormir a sesta, cobertos por um sombrero e a magicar uma trafulhice qualquer que os impeça de ir ao laboratório durante algum tempo. Segundo a teoria weberiana, em países calvinistas é impossível surgir um vírus que afaste as pessoas do trabalho.
Esta gripe é uma óptima desculpa para evitar eventos sociais, criancinhas e ex-namoradas. Para pedir dispensa do trabalho e de idas à praia. Para desligar a televisão sempre que apareçam na televisão aqueles animadores de programas de verão, sempre muito esbaforidos e excitadinhos, como Júlia Pinheiro, Manuel Luís Goucha ou José Sócrates.
Algumas crenças religiosas defendem que o equilíbrio do Universo emerge do confronto entre o Bem e o Mal, pelo que é possível que o aparecimento desta estirpe de gripe seja a grande força negativa universal que veio substituir os finados Delfins.
Eu não sou um alarmista da saúde, mas pelo sim, pelo não, cuidemos do futuro da nação. Faço um apelo a todos os educadores para fecharem os filhos adolescentes em casa até eles terem, no mínimo, 18 anos. Essa sábia decisão salvaguardaria a saúde física dos vossos filhos e a saúde mental deste vosso estimado colunista.
Há também pessoas preocupadas com a diminuição da vida sexual. Não entendo porquê. Com os devidos cuidados, o vírus H1N1 não se propaga pela Internet.
De vez em quando, do México lá chega uma razão para não sair do sofá. Em 1986 tiveram um Maradona que vinha do espaço. Em 2009, uma gripe que veio dos porcos. Muchas gracias, chicos.
Por: Nuno Amaral Jerónimo