Manuel António Pina regressou a casa no passado sábado. Junto ao castelo do Sabugal, que tanto o fascinou, o escritor e jornalista foi homenageado pela Junta de Freguesia local, numa cerimónia carregada de emoção e de reencontros. De volta ao ponto de partida, recapitulou a sua vida e obra com a ajuda de Arnaldo Saraiva, para quem é «um dos maiores poetas portugueses vivos».
Amigos e familiares marcaram presença no auditório municipal da, agora, cidade raiana, onde nasceu em 1943, e ouviram o homenageado confidenciar o incómodo sentido pelo tributo e por uma «demonstração de estima» de que não se considera merecedor. «Agora tenho que pedir a insolvência, porque tenho tantas dívidas de gratidão que nunca poderei pagá-las», ironizou, visivelmente surpreendido com «a presença amiga de tanta gente». Opinião contrária defendeu o presidente da Junta do Sabugal. Para Manuel Rasteiro, esta homenagem «é pequena para um homem tão grande». A confirmá-lo, Arnaldo Saraiva fez o elogio do homem, do poeta e da sua obra, mas também do amigo, «um beirão que mudou muito» desde que deixou o Sabugal. «É uma das vozes mais importantes da poesia portuguesa, além de ser uma voz incómoda do jornalismo num tempo de muito conformismo e uma personalidade literária e humana digna de todas as homenagens. Trata-se de um clássico moderno da nossa literatura», disse o professor universitário.
E acrescentou: «É um escritor muito consciente da sua escrita e até tem um forte sentido de auto-depreciação que o leitor não partilha», lembrando que Manuel António Pina «açambarcou alguns dos melhores prémios nacionais de literatura». Depois da palestra, a comitiva rumou à antiga casa dos seus avós [a actual Casa do Castelo], na Praça da República, onde foi descerrada uma placa alusiva ao nascimento do homenageado. Além do Sabugal, terra de origem da família materna, Manuel António Pina tem uma “costela” de Aldeia Viçosa, freguesia da Guarda, de onde é natural o seu pai. O autor deixou a raia ainda pequeno por força da profissão do pai, funcionário das Finanças, tendo passado por várias localidades ate se fixar no Porto aos 17 anos. «Eu era uma espécie de Sisifo, começava tudo de novo de cada vez. Este reencontro é quase um ajuste de contas com essa situação», reconheceu.
«A vida e a existência é um eterno regresso, o problema é que nesta viagem, às vezes, não sabemos quando regressamos. Mas o nosso grande sonho é regressar a casa», sublinhou depois o poeta, que não veio de mãos vazias. Como forma de agradecimento, o também jornalista ofereceu uma colecção dos seus livros à Biblioteca Municipal. Manuel António Pina escreveu três dezenas de obras de poesia, literatura infanto-juvenil, ensaio e crónica, tendo sido amplamente premiado e traduzido. É ainda autor de duas dezenas de peças de teatro e foi jornalista do “Jornal de Noticias”, onde foi, entre 1971 e 2001, editor e chefe de redacção. Actualmente, escreve diariamente uma coluna de opinião na última pagina do diário portuense.
Luis Martins
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