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“O poder tende a corromper – e o poder absoluto corrompe absolutamente.” – Lord John Acton

Pinto da Costa que, com “espontaneidade”, é ilibado do Caso do Envelope, pois uma vez desvalorizado o testemunho de Carolina Salgado, apenas ficou provada uma reunião na casa de António Araújo, com o árbitro Augusto Duarte, na antevéspera do jogo Beira Mar – F. C. Porto, que este juiz ia conduzir. Nada de envelopes debaixo da mesa. Afinal tudo se reduziu a uma questão de chá, “o chá das cinco”, e com açúcar, Carolina.

Avelino Ferreira Torres que com “singeleza”, é absolvido depois dos testemunhos que, em fase de inquérito, o acusavam de quatro crimes, entre os quais o de corrupção, uma vez que, em julgamento, esses testemunhos tomaram “novos rumos”, bastante mais favoráveis à defesa do arguido. A nossa primorosa lei assim o permite, pois impede que as testemunhas e arguidos sejam confrontados com as declarações feitas antes do julgamento.

Isaltino Morais que, com toda a “ingenuidade”, admite ter fugido ao Fisco na compra de alguns imóveis e, ainda mais fantasticamente, se desculpou dizendo que “qualquer cidadão com mais de 50 anos recorria a este tipo de prática na altura”. Continuou com todo o brilho ao assumir ter feito declarações de rendimentos erradas, pois não sabia que era preciso declarar o dinheiro das contas da Suíça, e isto é hilariante…pois claro que não sabia, até porque a ideia era escondê-lo, e não declará-lo…por isso estava num banco suíço. É pá, não baralhem o senhor, é que ele precisa de forças para ganhar mais uma vez a Câmara de Oeiras.

Domingos Névoa que, com toda a “naturalidade”, foi nomeado para uma empresa intermunicipal de gestão de lixo bracarense, apesar de ter sido condenado em dois crimes de corrupção e ser suspeito de outros, mas que acabou por não aceitar…talvez por falta de disponibilidade, outros negócios. Afinal, estas coisas implicam um certo dispêndio de tempo.

Ex-ministros que saltam “elegantemente” para cargos cimeiros de grandes empresas, depois de, em jeito de benfeitores e enquanto responsáveis políticos, terem defendido arduamente os interesses das mesmas, sob o chavão do interesse público.

José Sócrates que, com toda a “lisura”, não é arguido, nem suspeito, no processo português do Freeport, apesar de ser dos principais suspeitos da justiça inglesa, de aparecer claramente mencionado como envolvido e corrupto no vídeo gravado pelo administrador do Freeport, Alan Perkins, de ter aprovado (em período de gestão), mesmo uma semana antes de sair do governo para dar lugar a um ministro PSD, o empreendimento Freeport,…

Mas temos que compreender…Afinal, o DVD não faz prova do ponto de vista jurídico e a actual legislação penal restringe que um processo-crime tenha por base uma denúncia anónima. Esta restrição, segundo o próprio juiz de instrução criminal do processo Freeport, contraria convenções anti-corrupção que Portugal ratificou, mas isso também não interessa. Para ajudar a explicar, contrariando declarações do próprio Procurador-Geral da República que diz não entender porque é que o processo Freeport ainda não está concluído, o DCIAP requereu um prolongamento de investigação do caso até Junho 2009, que já foi concedido pelo juiz de instrução. E ponto. Final.

Depois da luta (perdida) que travou para impor medidas que considerava fundamentais para a luta contra a corrupção, João Cravinho partiu para Londres, para assumir a direcção do Banco Europeu para a Reestruturação e Desenvolvimento, admitindo que o chumbo da proposta na Assembleia da República foi uma derrota pessoal. Claro que foi…Pois se o PS se recusou a aceitar lições suas de combate à corrupção (o que é compreensível pois poderia ser contraproducente), estava sozinho na aula, logo, foi derrotado sozinho.

Jorge Coelho, ex-ministro de tudo e mais alguma coisa em governos socialistas, actual presidente-executivo da Mota-Engil, disse em 2005 «a ética, em Portugal ou em qualquer país do mundo, tem de ser igual à lei». E assim se sintetiza a problemática, aquilo que justifica esta assustadora naturalidade da corrupção. Na verdade, é a lei que tem que seguir a ética, e não o contrário. Esta inversão de princípios, onde a reflexão sobre a moral, moral essa entendida como a prática concreta dos homens na sociedade complexa, passa a ser condicionada pela lei que alguns homens superintendem, muda tudo. Cumpre a lei? Cumpre…a ética há-de cumpri-la também.

E a corrupção instalou-se assim ao virar da esquina, parece ter passado a pertencer à normalidade, ao comportamento das maiorias…é profundamente assustador, mas parece ter sido legitimada.

Por: Cláudia Quelhas

Comentários dos nossos leitores
Luis Coelho mail@luiscoelho.net
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“Havemos de chorar os mortos se os vivos o não merecerem” A.O.S
 

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