A maioria das pessoas pensa que um dos maiores erros alimentares é o consumo do pão. Associam a ele o ganho de peso e a dificuldade em emagrecer. Esta crença surgiu no início da década de 70, com a famosa dieta do Dr Atkins. Segundo ele, os grandes responsáveis pela obesidade no mundo eram os hidratos de carbono. Passadas mais de 3 décadas, continua-se ainda erradamente a considerá-los responsáveis pelo ganho de peso e pela obesidade.
Após numerosos estudos científicos, os hidratos de carbono são recomendados por todas as associações internacionais de Nutrição e Saúde, devendo a sua ingestão corresponder a cerca de 50% das calorias a serem ingeridas diariamente em dietas equilibradas.
A indústria alimentar veio alterar os hábitos alimentares das populações, alterando negativamente a composição dos alimentos. De entre as alterações mais importantes, salientamos a substituição dos hidratos de carbono por gorduras e açucares, contribuindo para dietas cada vez mais calóricas, e a refinação das farinhas de modo a melhorar o sabor dos vários alimentos. Um exemplo desta prática é o que acontece com a refinação da farinha de trigo. Ao serem refinadas, as farinhas perdem vitaminas, minerais e fibras. A sua utilização no fabrico de pão torna-os mais saborosos, mas mais empobrecidos em micronutrientes, tornando também os hidratos de carbono nelas existentes, de mais fácil e rápida absorção e digestão, provocando elevações bruscas da glicose sanguínea após as refeições.
A selecção do pão não é tarefa fácil, pois cada vez existem mais variedades de pão nos supermercados e padarias. É o pão integral, o 100% integral, o de cereais, o da avó, de nozes, de soja, ….Tantas opções só podem causar confusão no consumidor. O melhor é ler os rótulos e informar-se para não cair em armadilhas.
O avanço da engenharia alimentar, tem permitido a produção de pães “enriquecidos”em inúmeros nutrientes, tais como vitaminas, ómega 3 e ómega 6, mas que, dadas as pequenas quantidades introduzidas, poucos benefícios trazem para a saúde, não justificando pois, a opção pela utilização desses alimentos suplementados, muitas vezes mais dispendiosos.
Outra preocupação a ter na selecção do pão prende-se com o teor de sal. Sabe-se que o pão português é dos mais salgados da Europa, e que em Portugal a Hipertensão Arterial, constitui um enorme problema de saúde pública, pelo que, no dia 18 de Dezembro de 2008 a Comissão da Saúde, da Assembleia da República estabeleceu normas com vista à redução do teor de sal no pão, estabelecendo que o teor máximo de sal no pão, após ter sido confeccionado é 14 gramas por quilo de pão.
Estudos recentes têm demonstrado que, em média, o pão “clássico” vulgarmente conhecido como molete, pão “biju”, carcaça… possui entre 18 a 21 gramas de sal por quilo, e que o pão integral tem em média 15 gramas de sal por quilo.
Tendo em consideração que a Organização Mundial de Saúde recomenda, 5,8 gramas de sal como dose máxima a ser consumida diariamente na alimentação, e que o consumo excessivo de pão pela nossa população (por ser ainda dos alimentos mais baratos) pode de facto contribuir para o consumo exagerado de sal na população portuguesa.
Em resumo, e perante as informações disponíveis, não há fundamento para abolir da alimentação diária, o consumo de hidratos de carbono e como tal de pão. Ao retirarmos este nutriente da alimentação estamos a praticar uma dieta desequilibrada, uma vez que, e definitivamente exageramos no consumo de gorduras, açúcares e proteínas, pelo que além de comprometermos a normalidade do metabolismo do nosso organismo, não garantimos a perda de peso.
Por: Inês Campos