A produção de amêndoa no concelho de Vila Nova de Foz Côa está a ser ameaçada por um anormal decréscimo do número de abelhas, numa altura em que o sucesso das explorações depende do processo de polinização, o que está a causar preocupação entre os produtores. O alerta é dado pela Coamêndoa – Cooperativa Agrícola de Produtores de Frutos de Casca Rija, que diz que a produção deste ano foi já afectada. A Quercus foi chamada a intervir no caso.
A diminuição de abelhas nas proximidades das explorações com cultura de amêndoa tem vindo a ser registada nos últimos tempos, ainda que de forma pouco significativa, «mas este ano é muito mais acentuada e têm aparecido muitas mortas», descreve o presidente da Coamêndoa, Joaquim Grácio. O dirigente desta cooperativa, com sede em Freixo de Numão, diz ser impossível para já uma avaliação concreta dos eventuais prejuízos, ao explicar que «sem polinização nesta altura do ano, a produção perde-se». «Em vez de uma árvore dar 10 quilos, pode dar somente seis a sete», exemplifica. Para Joaquim Grácio, a morte das abelhas estará relacionada com uma doença ou então com uma má utilização de herbicidas por parte dos agricultores. «Temos que procurar as causas e agir», refere, adiantando que a Coamêndoa vai agora sensibilizar os produtores para a importância de adquirir e instalar colmeias nas suas explorações. A ideia é recorrer a empresas e associações de apicultores da região e, se necessário, comprá-las em Espanha.
Um hectare deve ter quatro colmeias para assegurar uma boa polinização, sendo que, refere Joaquim Grácio, há explorações que têm apenas uma ou duas. A escassez de abelhas afecta a generalidade dos amendoais, num total de três mil hectares. «Vamos esperar para ver o que faz a Quercus, porque é urgente encontrar soluções para atenuar o desaparecimento das abelhas na zona», alerta Joaquim Grácio, para quem «o Estado deveria intervir nesta matéria, impedindo a venda de herbicidas e produtos que afectam as abelhas». Também chamado a actuar neste caso, o Núcleo Regional da Guarda da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza aponta a utilização de herbicidas em culturas próximas dos amendoais como a «causa provável» para o que está a acontecer. «Estamos a analisar o caso, mas, numa primeira avaliação, tudo indica que são mesmo os herbicidas que estão a matar as abelhas», adianta Ricardo Nabais.
Isto porque, segundo o presidente do núcleo, há explorações com outras culturas a rodear os amendoais, como a vinha, na maioria dos casos de proprietários diferentes, onde são utilizados herbicidas. Como não existem faixas de contenção entres as diferentes culturas, a acção dos herbicidas acaba por afectar as amendoeiras, explica o ambientalista. «Se não há erva, não há flor e então não há néctar, o que significa que também não há abelhas», sintetiza, sublinhando que «é importante incentivar os agricultores a optarem cada vez mais pela agricultura biológica». O dirigente considera que, para já, devem ser realizados encontros entre produtores de amêndoa, associações de agricultores, viticultores e associações de apicultores para se encontrarem soluções para boas práticas para que as diferentes culturas possam coexistir sem se prejudicarem.
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