Convicto vos afirmo que estranho os discursos revoltos de Alegre e pressuponho, de modo triste, que nele a revolta nasça do coração apaixonado. De facto, não nutro grande estima pela personagem, a quem apenas se conhece a obra versada e que os admiradores cantaram. As trovas do Manuel que passa. Mas este vento existe sempre protegido, com um PS que lhe dá guarida, apesar das vociferações, lhe dá emprego à família e afilhados e protege um eterno salário numa tribuna parlamentar em que intervém pouco. Manuel vive desde Setembro de 1974 de cargos do PS, teve sempre um espaço de sustento político e nunca deu o corpo ao manifesto. Nunca foi candidato de Câmara Municipal, de Junta de Freguesia, nunca se expôs ao povo, nunca esteve ali onde a estupidez humana atinge o ridículo, na discussão do passeio, da extrema, do cano de água. Incólume, Manuel fala como a cigarra para a formiga, canta mas não produz, além de umas trovas onde destila o seu fel do século XIX. Manuel Lenine Alegre é uma contradição, pois o legado de Lenine e da esquerda que apregoa são milhões de mortos e miseráveis. Manuel está alegre e bem graças a um PS que não abandona porque o sustenta. Manuel tem a reforma pela vida que levou no PS como parlamentar. Manuel é, sobretudo, uma bitola de receber e dar pouco. E tudo isto é extraordinário e me deixa muitas vezes indignado. Há muita tolerância para esta trova do vento que passa. Adorava saber da tolerância de Manuel se tivesse tido um verdadeiro poder. Adorava saber o que teria feito se não enveredasse pelo partido, há 34 anos. Hoje, esta é a fatia maior da sua vida activa. O combatente da liberdade jaz lá atrás e esmorece.
Por: Diogo Cabrita