Surgiu há algumas semanas atrás na blogosfera a interrogação se seria possível a cidade ter um espaço de divulgação científica semelhante ao Centro de Ciência Viva “A Fábrica”. Quando li esse post dei por mim a recordar o artigo escrito neste mesmo espaço no Verão passado.
O conhecimento científico e tecnológico é, hoje, consensualmente apontado como um dos principais pilares das dinâmicas de desenvolvimento económico, social e cultural das sociedades contemporâneas. Neste sentido, a influência social da ciência propagou-se às diferentes formas de pensar, disposições cognitivas e orientações da acção da vida quotidiana das sociedades de tal modo que, nas últimas duas décadas, assistiu-se ao incremento de debates acerca de temas científicos e tecnológicos na sociedade. O cidadão necessita de participar activamente na discussão destes temas, precisa de entender as grandes questões que se põem à ciência na época contemporânea sendo, deste modo, importante alargar à população em geral, ou pelo menos a segmentos tão vastos quanto possível, a apreensão de aspectos fundamentais inerentes à ciência. A importância de promover a participação do cidadão na ciência apresenta duas dimensões: a primeira associada ao papel da ciência, enquanto dispositivo cognitivo, retórico e comunitário de produção de estratégias de sobrevivência na relação homem/natureza; a segunda, como mecanismo dos governos para legitimar decisões políticas, relacionadas com a ciência e a tecnologia, através da responsabilização dos cidadãos nas definições das estratégias a desenvolver. Esta é a tese do relatório da The Royal Society of London que defende que, uma melhor compreensão da ciência pelo público pode constituir um elemento determinante para a promoção da prosperidade nacional, elevação da qualidade da decisão pública e privada e enriquecimento da vida do indivíduo. (The Royal Society of London, 1985). É neste contexto que, nas últimas duas décadas, se tem reconhecido a importância de aumentar a proporção de cidadãos cientificamente literados para participarem no debate público sobre ciência e tecnologia, surgindo deste modo o conceito de Literacia Científica. A Literacia Científica tem sido marcada pela volatilidade desde que surgiu no final da década 50 do século passado, sendo alvo de interpretações e reinterpretações. Inicialmente caracterizada de forma empírica como um objecto pessoal que permite compreender: a inter-relação entre a ciência e a sociedade; a dimensão ética dos cientistas no desenvolvimento do seu trabalho; a natureza da ciência; conceitos básicos de ciência; diferença entre ciência e tecnologia e a inter-relação entre a Ciência e Humanidade. O conceito de literacia científica pode ser encarado de uma forma empírica como a capacidade do indivíduo conseguir ler e escrever sobre ciência e tecnologia, sendo que esta definição por ser Esta visão empírica foi sendo substituída por uma visão mais próxima da que defende que a literacia científica está relacionada com o que o público deve saber sobre ciência o que, usualmente, implica a compreensão da natureza, objectivos e limitações da ciência associada à compreensão das mais importantes ideias científicas. Deste modo e como defende Thomas e Kindo a comunicação de ciência “ajudar a criar pontes entre o saber do senso comum das diferentes culturas, e o novo conhecimento científico internacionalizado”
Esta minha argumentação mostra a importância da promoção da ciência, pelo que tal como defendi na blogosfera é possível criar um pólo de divulgação de ciência de modo a aumentar a dinâmica cultural de ciência na cidade e na região. Esta iniciativa seria pioneira na região portuguesa e espanhola, senão vejamos: os centros de ciência viva mais próximas da Guarda, em Portugal, são Coimbra, Aveiro, Proença-a-Nova e em Vila Real a abrir proximamente. Em Espanha, o mais próximo que existe é em Valladolid. Neste sentido, um centro de ciência poderia servir a Guarda, Covilhã e Viseu, e mesmo a região espanhola próxima da fronteira (bastava um pouco de divulgação). Este centro poderia ser temático, como acontece, por exemplo, com o Ciência Viva de Vila Conde ou de Proença-a-Nova. A infraestrutura onde iria funcionar o centro poderia ser uma remodelação de um espaço (existem pelo menos dois/três espaços que poderiam ser reutilizados), ou a construção de um edifício novo. 
Mas a questão principal não se centra no projecto, mas sim na capacidade de mobilização para uma aventura desta, na capacidade de selecção das pessoas certas para os lugares certos, na capacidade de inovar e arriscar, na capacidade de definir novas fronteiras para a cultura, na capacidade de decisão…
Por: António Costa