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A Guarda assume-se como capital cultural do interior

Investigação médica na área cardio-respiratória e bioclimática, bem como no tratamento de doenças respiratórias, será outra aposta da cidade

A Guarda assume-se como capital cultural do interior após a abertura da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço. O último trunfo foi inaugurado por Cavaco Silva, na passada quinta-feira, no dia em que a cidade comemorou 809 anos.

O estatuto foi reivindicado por Joaquim Valente na sessão solene da efeméride: «É essa uma das nossas vocações e tem que ser essa uma das nossas características distintas», sublinhou o presidente do município, lembrando que a nova biblioteca junta-se ao Teatro Municipal e ao Centro de Estudos Ibéricos (CEI) para consolidar uma «oferta cultural de qualidade» na cidade. Antes dos discursos, o Presidente da República gostou do que viu na biblioteca e manifestou uma curiosidade especial pelo espólio doado pelo ensaísta. Os três mil livros do acervo pessoal de Eduardo Lourenço ficam no segundo andar e são uma das mais-valias do novo equipamento, cujo fundo bibliográfico é constituído por cerca de 130 mil obras. Cavaco Silva elogiou a «aposta tão expressiva» da Guarda na cultura, mas também o seu empenho na cooperação transfronteiriça através do CEI, que o ensaísta idealizou envolvendo as Universidades de Coimbra e Salamanca e o Politécnico local.

«Não surpreende que Eduardo Lourenço seja a personalidade em quem a Guarda se revê no momento em que pretende reafirmar a sua singularidade, já não como vigia das fronteiras, mas como ponte estendida às regiões que com ela confinam e que enfrentam dificuldades e desafios semelhantes», afirmou. Uma aposta que o chefe de Estado elogiou, reconhecendo que a cidade «compreendeu perfeitamente as transformações profundas que os novos tempos exigem e soube cultivar amizades do outro lado da fronteira». Uma aproximação que Joaquim Valente também valorizou: «Esta é a cidade que está mais vocacionada que nenhuma outra para se assumir como plataforma de entendimento e cooperação», declarou. Outra aposta da Guarda estará na investigação médica na área cardio-respiratória e bioclimática, bem como no tratamento de doenças do foro respiratório.

Nesse sentido, a autarquia, juntamente com a Unidade Local de Saúde e a administração central, estão a projectar a recuperação de dois dos velhos pavilhões do antigo sanatório. «A breve prazo, teremos aqui uma mais ampla centralidade relacionada com a saúde, a investigação, o ensino, o ar e a altitude», anunciou o edil, recordando que o Sousa Martins é, dos três hospitais da região, aquele que «recebe anualmente o maior número de alunos dos cursos da Faculdade Ciências da Saúde da UBI».

Medalha de ouro para o casal Lourenço

Quem também esteve no centro das atenções foi Eduardo Lourenço. O ensaísta e patrono da nova biblioteca recebeu, juntamente com a esposa Annie Salomon, a medalha de ouro da cidade, e reconheceu que «nenhuma homenagem seria mais grata» do que terem dado o seu nome à biblioteca, «o lugar onde se sonha». Mas também «uma espécie de cemitério em perpétua ressurreição», acrescentou, esperando que neste espaço as novas gerações possam «revisitar os sonhos dos antepassados para construírem o seu futuro». Contudo, o pensador confessou uma «grande tristeza» pela morte de Ángel Campos Pámpano, «que promoveu em Espanha os nossos grandes poetas». O poeta faleceu dois dias antes da cerimónia, pelo que o Prémio Eduardo Lourenço, atribuído anualmente pelo CEI, foi entregue, a título póstumo, às suas filhas.

Luis Martins

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