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Mais rápido que um AVC…. (mas não que a C.V.A.)!

Ainda no calor deste atípico começo de Outono, um amigo, já de idade, sentiu-se subitamente mal. Com dificuldade para falar e o braço esquerdo sem poder mexer, entraram, ele e a esposa, em pânico. De repente, num ápice de lucidez, ela recordou-se da publicidade que apela para a celeridade de actuação nestes casos, e chamou o 112. “Seja mais rápido que um AVC”, dizem eles, fazendo crer com isso que alguém, no lugar certo (e perto), devidamente preparado e com recursos para actuar, curará ou, pelo menos, minorará o infortúnio de quem vê a sua vida, de um momento para o outro, modificar-se drasticamente com a doença.

– Creio que o meu marido está a ter uma trombose cerebral; mandem rápido uma ambulância, por favor, suplicou. (…) lá apareceu a equipa de socorro médico. Passadas 5 ou 6 intermináveis horas de espera nas Urgências do Hospital da Guarda, finalmente obtém uma informação seca e fria: – o seu marido teve um AVC. Posso vê-lo, perguntou. Não, reponderam. Apavorada, perguntou com desespero: Mas ele está bem? Já o trataram? Já fala? Mexe o braço? Em que serviço está? Não, minha senhora, o seu marido está aqui numa maca, no corredor da Urgência, com um soro, à espera de uma vaga na Medicina!

Mas, e então… não percebo, não há no Hospital um Serviço ou uma Unidade especial para tratar os doentes que sofrem de AVC? Não é para isso que criaram vias verdes e se tem que ser mais rápido que um AVC? Até um jornal entrevistou o director, ou o chefe, ou o quer que seja, dessa Unidade? E não foi que até disseram em rádios e jornais que os Cuidados Intensivos estiveram fechados vários meses para ter camas próprias para esses doentes?

– Não minha senhora, no distrito da Guarda não há Unidades de AVC. Já cá chegou a publicidade, já; mas a Unidade não. Também já houve entrevistas, e há Unidades Locais de Saúde com directores, e chefes, e coordenadores, e assessores, com os seus respectivos sub’s e secretárias para tudo e mais alguma coisa – novos, velhos e reciclados –, mas Unidade de AVC, não! Claro que as eleições estão aí à porta, pelo que também já houve umas inauguraçõesinhas e fizeram-se uns remendinhos, e até há projectos e maquetas de muros e paredes, mas Unidade…hmm-humm! Mas pronto, deixe lá, pelo menos já temos na cidade Centro Comercial e tudo… só que isso de uma Unidade de AVC para um dos distritos do país com mais pessoas de idade avançada, não minha senhora, isso deve ser uma coisa muito complicada, sabe! Pois, pois, os outros distritos já todos têm, já; mas olhe, não importa… continuemos a ser mais rápidos que um A.V.C…. já que não conseguimos ser mais rápidos que a C.V.A.: cidade vencida pelo atavismo! (…politizado, ainda por cima).

Manuel de Oliveira, carta recebida por email

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