Portugal não é uma ilha no espaço global. Portugal não é um mistério de sucesso na aldeia financeira. Todo este estado de acalmia me faz crer num grande embuste. Há milhares de casas à venda e a ERA tornou-se a marca de maior visibilidade pelas cidades.
Fui testemunha de muitos artistas que criavam “produtos” para vender a fundos imobiliários, que os compravam como “ideias” que seriam matéria substantiva (avaliações A1 de rating). Como não havia substância nenhuma, os Fundos eram afinal bolsos rotos de entornar sumo nas mãos ávidas de ensandecidos, de demenciados e outros artistas.
Outro sintoma é ter construído a economia em torno dos serviços e não da produção. Portugal tem mais comércio que indústria e mais “franchising” que criatividade e isso paga-se nesta altura.
Portugal não é um lugar ermo e, por essa razão, tem de estar envolvido na crise.
– Mas nós dávamos crédito à habitação, não estivemos nos Fundos nem nas Rating a comprar nada.
Os bancos ditos clássicos estão sob a ameaça do crédito mal parado, sob o efeito do desinvestimento, sob o vulcão da desaceleração, da deflação e da desinflação. O “spread” é o lucro (a percentagem que ele cobra por nos emprestar dinheiro) e a Euribor é aquele dinheiro que nós pagamos para ele – banco – pagar o dinheiro que nos empresta aos outros bancos onde o foi buscar. Assim Portugal está na crise. As casas são o produto que os bancos não querem e, por essa razão, o “spread” é a sua fonte de rendimento se o povo pagar o que deve. Este baque consiste em ficar com as casas inflacionadas numa época em que os preços descem e, desse modo, os bancos mais pobres. O baque está aí e está contido por uma máquina formidável da propaganda socialista e “alavancada” num acordo de silêncio inter-partidário. Mais uma vez o PSD tenta ser um partido responsável do Estado e mais uma vez desse modo perderá o poder. E o outro baque é que a política é um jogo com um só destino – a conquista do poder, e da imortalidade no seu conteúdo.
Por: Diogo Cabrita