Quando começou a carreira na política era a única mulher com “direito” a participação na Assembleia Municipal de Pinhel. Apesar disso, Maria Alice Silva – a “Maria Alicinha”, como é conhecida – garante que «não deixava de dizer o que tinha para dizer». Mesmo aos 85 anos e passadas mais de duas décadas de mandato, obstinação, tenacidade e determinação são, ainda hoje, características da presidente da Junta de Bouça Cova, naquele concelho.
No domingo, a autarca foi homenageada pela população, através da colocação de um busto em bronze no jardim da aldeia. O tributo foi presenciado por mais de uma centena de populares. Na mesma tarde foi ainda inaugurado outro monumento, uma escultura em homenagem ao “homem do campo”. Nas duas últimas décadas, sempre eleita pelo PSD e sem opositores, Maria Alice Silva foi responsável pela «concretização de obras fundamentais para a freguesia». A lista – recordada durante a cerimónia – é extensa, mas inclui melhoramentos como o saneamento, o abastecimento de água, arruamentos e, o mais arrojado de todos – a construção da Barragem de Bouça Cova, que, no mês passado, permitiu a chegada da água canalizada à aldeia. Para além de autarca, a octogenária é igualmente presidente da Associação Cultural e Recreativa local, membro da Comissão Fabriqueira da Igreja e uma das impulsionadoras da Junta de Agricultores, que integra as freguesias de Bouça Cova, Alverca da Beira, Moimentinha, Cerejo, Freixedas e Vila Franca das Naves.
Filha da professora primária da aldeia, Maria Alice Silva nasceu em 1923. Após a 4ª classe em Bouça Cova, foi estudar para um colégio de freiras na Guarda. «Mas eu não me dava lá muito bem. Aquilo era muito rígido», recorda a homenageada, que, além da carreira profissional, ainda teve tempo para ser mãe, avó e, mais recentemente bisavó – tem quatro netos e três bisnetos. Em Coimbra, estudou no Liceu D. Maria e, mais tarde, tirou o curso de magistério, tendo trabalhado durante cerca de uma década no Magistério Primário. Passou por Angola e Moçambique e regressou na década de 70. Esteve primeiro em Lisboa e só depois voltou para a terra natal. Mas este regresso foi «muito chocante». Maria Alice Silva lembra que, nessa altura, «a aldeia estava muito atrasada, ainda havia estrume na rua». Mesmo assim, e apesar das carências de Bouça Cova, a tarefa mais difícil foi «mudar mentalidades», garante. E 22 anos depois orgulha-se de dizer: «Eu decidi que tinha que modificar isto e quando a Maria Alice diz que faz, faz».
Uma das obras de que mais se orgulha é a “Casa das Andorinhas”, um centro de dia que funciona no edifício da antiga escola. Quanto a uma possível recandidatura às próximas eleições, a autarca deixa tudo em aberto. Pelo menos para já: «Se estiver em condições, porque não? Mas isso vê-se depois», remata.
Rosa Ramos