Os Bombeiros da Guarda assinalaram, no domingo, 132 anos, mas a cerimónia ficou marcada por alguma tensão e troca de galhardetes – ainda que discreta – entre os responsáveis dos voluntários da cidade e Maria do Carmo Borges. A Governadora Civil, em representação do secretário de Estado da Protecção Civil, aproveitou a ocasião para tecer elogios ao trabalho de António Fonseca, comandante distrital operacional da Protecção Civil, e defendeu a necessidade de «complementaridade» no trabalho de bombeiros e aquele serviço. O certo é que o discurso não caiu bem no seio dos “soldados da paz”, já que o comandante Luís Santos discordou, sustentando que, actualmente, «há concorrência e não complementaridade».
Na mesma cerimónia, Álvaro Guerreiro, presidente da Associação Humanitária, anunciou que não vai estar disponível para um novo mandato à frente da instituição, depois de 25 anos ligado aos corpos dirigentes. «Todas as coisas têm um tempo próprio. Nunca estive agarrado a este lugar ou a qualquer outro e acho que a missão está cumprida», anunciou, sublinhando que é chegada a altura dos associados começarem «a dedicar-se, a intervir e a gerir a Associação Humanitária». Veio depois Luís Santos. O comandante da corporação anunciou que também vai colocar o lugar à disposição nas próximas eleições, agendadas para Dezembro. «Saio, antes de mais nada, porque há novas eleições e o próprio presidente da direcção manifestou interesse em não continuar», justificou-se. De resto, a efeméride ficou marcada pela ausência de qualquer membro do Governo, facto que não surpreendeu Álvaro Guerreiro. «Este quartel foi inaugurado sem a presença de nenhum membro do Governo e isso ficou registado na história desta casa. Nestas coisas, e como se diz na Beira Alta, só faz falta quem cá está», ironizou o presidente da Associação Humanitária, à margem da cerimónia.
No centro das preocupações do dirigente continua a falta de uma segunda viatura de combate a incêndios urbanos, até porque a existente «já tem 15 anos». Álvaro Guerreiro garante que, a este respeito, já fez o que devia, «alertando as entidades competentes para a necessidade» deste recurso. E vai mais longe: «Daqui a amanhã, espero que não nos seja imputada nenhuma responsabilidade por não ter avisado a tempo e horas». O dirigente considera, assim, que «o aviso está feito» e afirma que não é competência dos bombeiros adquirir o carro, «até porque não temos dinheiro para isso». E sublinhou que está disponível para conversar com o Governo: «A senhora Governadora disse que o secretário de Estado lhe pediu para me transmitir que estava a aguardar uma oportunidade para podermos conversar e eu tenho um princípio que é ser educado para com as pessoas. Por isso, respondi-lhe que fico, então, tranquila e serenamente à espera que ele tenha a fineza de me convocar para essa reunião, à qual irei», afirmou.
Entretanto, e ao que O INTERIOR pôde apurar, o comandante dos Bombeiros, Luís Santos, está a ser alvo de um processo de averiguações por declarações prestadas, há duas semanas, a este jornal. No seu discurso, Álvaro Guerreiro chegou a referir que ainda «acreditava que havia liberdade de expressão em Portugal». Contudo, contactado posteriormente, o dirigente preferiu pôr “água na fervura”, dizendo que «nunca é demais reafirmar que ela é necessária e importante». Mas acrescentou, para bom entendedor: «Entendo que as Associações Humanitárias devem manter-se livres e autónomas». Na cerimónia foram entregues medalhas de mérito e de honra. Madeira Grilo, presidente eleito da Federação dos Bombeiros do distrito foi um dos distinguidos.
Rosa Ramos