1. Na vida, nas relações, nos grupos, nas empresas ou nas instituições há momentos em que o avolumar da crispação e da desconfiança só encontra um desfecho lógico e digno: a ruptura. A procura do entendimento, as tentativas de conciliação ou o recurso a mediadores têm um limite no tempo e nas circunstâncias. A diplomacia antepõe-se à contenda mas raramente se lhe sobrepõe. É, assim, inútil tentar fazer o possível quando se torna premente fazer o necessário. Na política, então, ainda é pior: todas as boas intenções levadas ao extremo resultam em prejuízo. Um dirigente que afirme, num dia solene, que tem uma equipa coesa e que nela mantém «confiança pessoal, institucional e política, por ser a melhor testemunha do esforço de cada um e de todos» não deve temer a chegada do dia aziago em que se verá impelido a afirmar e a explicar o contrário. Se perdeu a confiança e passou a ser testemunha de outros factos, só terá que agir – a tempo de não ser colocado na condição de refém. Nestas alturas aferem-se muitas coisas, incluindo a autoridade e a motivação. A ruptura traz sempre consigo algo de exaltante, na medida em que regenera, reorganiza e aperfeiçoa as organizações. Quem salta ou é obrigado a saltar também aprende. Descobre – muitas vezes tarde e amargamente – que não vale por aquilo que é mas pelo lugar onde está. E que, terminada a incumbência, afinal nada existia para além disto aos olhos de terceiros – nem valor nem vaga. Os que ficam agarram a segunda oportunidade, normalmente mais criativa e produtiva. Os que vão caem fulminantemente no esquecimento.
2. Teresa Patrício Gouveia está disponível para aquilo que a Guarda quiser. Declarou-o a própria. Partes do PSD entraram em euforia: aqui está a candidata à Assembleia Municipal, se não for mesmo à Câmara. Duvido, por três razões. A primeira tem a ver com a inevitável perda de prestígio da Assembleia Municipal, depois de falhada mais uma tentativa de revisão da lei eleitoral para as autarquias. Ao contrário do que parecia assente ainda há meio ano, já não será em 2009 que votaremos para a formação de um autêntico governo local a partir de um verdadeiro parlamento de proximidade. Lá virão de novo as listas para a Câmara e as listas para a Assembleia. E lá continuará esta, sem honra nem glória, confinada ao papel tácito de instituição de corpo presente à qual se recorre por maçador imperativo de lei mas onde o jogo está definido à partida num cenário de absentismo, aborrecimento, falta de preparação e ausência de debate profundo. Deixará de ser prestigiante presidir a um órgão cuja morte todos desejam mas adiam. Pelo menos deixará de ser prestigiante para alguém como Teresa Patrício Gouveia. Como, pelas mesmas razões, para o actual presidente, João de Almeida Santos. A segunda razão radica no cenário de uma eventual candidatura da ex-ministra dos Negócios Estrangeiros de Durão Barroso à Câmara da Guarda. Mal iriam as coisas se o quadro das propostas, por qualquer das áreas políticas, passasse a abranger a benevolência de guardenses eméritos ou, pior, de um qualquer Santana Lopes de trazer por aí. Seria um sinal de que a massa crítica local desistiu. Ou de que não há sequer massa crítica nem gente disponível para lutar pela terra onde vive. A terceira razão advém da entrevista de Ana Manso ao Sol do passado Sábado, que deve ser lida de baixo para cima. É que a declaração mais importante está precisamente na última resposta: «a vida também é feita de contradições…». Do mesmo modo que as notícias sobre a morte política são sempre exageradas e que, como diz o povo, não há duas sem três. A diferença passa pela escolha criteriosa dos tabuleiros onde se vai jogando o xadrez. No momento certo, e com calma, há-de dar-se o xeque-mate. Há que apreciar esta mulher, goste-se ou não.
3. É bom que isto vá começando a agitar, de qualquer maneira. A paz, quando não está podre, é suspeita – porque inibe a iniciativa e entorpece a estratégia.
Por: Rui Isidro