Eduardo Brito acredita que o PS não é «a Coreia do Norte» e que os militantes não se vão deixar «condicionar», uma atitude que considera «democraticamente errada». Na passada quinta-feira, o autarca de Seia apresentou a sua candidatura à presidência da Federação do PS da Guarda, na sede distrital do partido, e veio desfazer o aparente clima de unanimidade que José Albano Marques tem vindo a protagonizar. «Pelas notícias que saem nos jornais, eu posso ser esmagado, mas os votos contam-se no fim», avisou.
Sob o lema “Exigência e Ambição”, Eduardo Brito afirmou que se candidata para «elevar o nível do debate político», recusando pronunciar-se sobre dirigentes e «”fait divers”», como a inscrição massiva de militantes nalgumas concelhias. O candidato prefere fazer «uma reflexão» sobre o distrito, o PS e os problemas de ambos. E é com isso que conta conquistar apoios e convencer os militantes. Contudo, esta primeira intervenção não foi muito virada para o partido e mais pareceu um programa de governação. «Estou aqui para ser o porta-voz dos interesses e objectivos do distrito, mesmo que isso tenha consequências políticas a nível pessoal», anunciou. Até porque, na sua opinião, o presidente da Federação é, além de «voz activa» no combate político, «uma referência distrital que ajuda a criar condições políticas para que determinadas coisas aconteçam e luta por elas», considerou.
E Eduardo Brito já tem algumas em mente. «É preciso a Guarda recuperar estatuto, confiança e auto-estima. Temos que ser respeitados e ter outra projecção a nível nacional», reclamou, sublinhando que já é tempo da cidade «ganhar quando ombreia com Viseu, Castelo Branco ou Covilhã». Situação que só «voz autorizada», como a do presidente da Federação do PS, pode exigir. «De resto, está provado que os eleitores apreciam quem fala desta maneira e não por razões tácticas», acrescentou. O autarca do município serrano, o segundo maior do distrito, também acha que a Guarda deve assumir uma nova postura no contexto da Serra da Estrela. «É a cidade mais alta do país e tem que capitalizar cada vez mais este activo. Não faz sentido que as questões do turismo e da montanha não tenham na Guarda a sua principal referência», defendeu.
Distrito não pode continuar «a pagar a factura» do reajustamento da administração pública
Mas, até lá, é preciso que a cidade seja «mais forte, mais moderna e atractiva», pois «só uma capital mais forte pode puxar pelo distrito». Para isso, o candidato exige serviços públicos qualificados «e de âmbito regional» na Guarda, avisando que o distrito não pode continuar «a pagar a factura» do reajustamento da administração pública. Também o Governo terá que «fazer mais» pelo interior, onde a desertificação exige «maior atenção e empenho». Eduardo Brito disse ainda pretender ajudar a criar «um clima de diálogo e cooperação diferente, mais frutuoso», entre as instituições do distrito e as pessoas, pois «a política existe para resolver os problemas das pessoas, a atribuição de cargos é um facto marginal», sublinhou. Outra aposta do candidato tem a ver com os deputados à Assembleia da República, cuja lista deve ser liderada por residentes no distrito. «Isso é fundamental para a recuperação da nossa confiança, auto-estima e da força do distrito», referiu.
Eleito com maiorias confortáveis desde 1993 em Seia, Eduardo Brito assumiu que quer ganhar mais autarquias e consolidar a Câmara da Guarda, tendo elogiado o trabalho de Joaquim Valente. No entanto, recusou falar em candidatos, cuja escolha remeteu para as concelhias. «Isto não é a Coreia do Norte, eu não imponho ninguém», repetiu, dizendo-se pouco preocupado com o apoio da Juventude Socialista a José Albano. «Não deveríamos procurar condicionar os militantes, pois aqui não há sindicato de votos, ninguém é dono de ninguém», criticou, ironizando: «Conheço “jovens” com 80 anos, como Mário Soares, por exemplo, e jovens de 18 e 20 anos que parecem ter 50 e têm ideias ultrapassadas», disse. Por outro lado, desvalorizou o facto de só agora formalizar a sua candidatura, sustentando que os militantes vão avaliar «os estilos mais do que as propostas». Lemos Santos (coordenador da AIBT da Serra da Estrela), Vergílio Bento (presidente da concelhia da Guarda), Pires Veiga (director distrital da Segurança Social), algumas personalidades de Seia e Jorge Mendes (presidente do IPG), entre outros, marcaram presença na sessão de apresentação.
Luis Martins