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Vide acolhe primeiro Centro de Arte Rupestre privado em Portugal

Projecto funciona numa escola primária desactivada e foi inaugurado no sábado

É o primeiro Centro de Interpretação de Arte Rupestre de iniciativa privada em Portugal e um dos poucos existentes em toda a Península Ibérica. A iniciativa nasceu em Vide, no concelho de Seia, na sequência do projecto arqueológico “Estudo das Manifestações de Arte Rupestre nos rios Ceira e Alva”, desenvolvido pela Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA), e para o efeito foi disponibilizada pela Junta de Freguesia local parte das antigas instalações de uma escola primária entretanto desactivada.

O ponto de partida deu-se no início de Agosto de 2005, com uma exposição temática sobre arte rupestre na zona do Ceira e do Alva, mas a inauguração da estrutura só aconteceu no sábado. O principal objectivo do Centro passa por valorizar o património arqueológico de Vide que, segundo Nuno Ribeiro, coordenador do projecto e, em simultâneo, presidente da APIA, «está no centro de uma importante área arqueológica, que engloba lugares como a Serra da Cebola, Pedras Lavradas, Serras da Alvoaça e do Açor, o Rio de Alvoco ou Sobral de S. Miguel». A par de visitas guiadas e exposições permanentes, pretendeu-se criar em Vide um espaço que não sirva apenas as preferências dos «eruditos, mas que possa cativar a população em geral». Assim, serão realizadas sessões de arqueologia experimental, «viradas essencialmente para as escolas, desde o ensino básico ao superior», adianta Nuno Ribeiro. Para além disso, segundo o coordenador, o objectivo passa por «conseguir a visita de turistas estrangeiros ao local». Tudo isto poderá constituir «um importante factor de dinamização de Vide», acredita.

A estrutura conta com duas salas, uma de exposições e outra de apoio, que inclui um laboratório, que será usado pela equipa de sete arqueólogos para continuar as investigações na região. Em exposição permanente estarão painéis explicativos, com fotografias e informações sobre os levantamentos arqueológicos levados a cabo.

As obras de reconversão da antiga escola primária e as investigações efectuadas desde 1999 já custaram perto de 300 mil euros, valor suportado por uma candidatura a fundos comunitários, apresentada pela Associação de Desenvolvimento Rural da Serra da Estrela (ADRUSE).

Para além da continuidade dos trabalhos de investigação, serão elaboradas cartas arqueológicas de levantamento rupestre e trabalho de campo. Outra das linhas a seguir tem a ver com a publicação de teses, a promoção de ciclos de conferências, a realização de campus de investigação e a recriação de lugares de arte rupestre. Recorde-se que o Centro de Arte Rupestre de Vide aparece na sequência da descoberta de três núcleos relevantes e inéditos na região, nos locais de Fontes de Cid (gravuras datadas entre a Idade do Bronze Final e do Ferro), Ferraduras (Neolítico) e Carvalhinhos, Entre-Águas, (Neolítico/Calcolítico). As gravuras foram encontradas no Verão de 2002 por um grupo de arqueólogos do Centro Nacional de Arte Rupestre e são exemplos de feição pré e proto-histórica nunca antes estudados. É agora tarefa do centro assegurar o tratamento e a divulgação destes e de outros núcleos de gravuras rupestres que venham a ser revelados na região serrana.

Entretanto deverão surgir outros dois centros de interpretação, em Góis e Sobral de S. Miguel. «Mas isso são projectos a desenvolver no futuro», refere Nuno Ribeiro. «Embora se tratem de temáticas e concelhos distintos, trabalharão em sinergia», acrescenta.

O Centro de Interpretação de Vide estará aberto aos visitantes todos os dias úteis, entre as 9 e as 17 horas.

Rosa Ramos

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