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Era uma Vez…

Num mundo distante para lá do horizonte, existia um país onde as crianças tinham o direito a serem crianças. Neste país elas podiam experimentar as verdadeiras delícias da descoberta e interacção com a natureza. Uma simples árvore transformava-se num abrir e fechar de olhos no castelo dos cavaleiros de faixa vermelha prontos a desembainhar a sua espada contra os dragões que cuspiam fogo. Outros aproveitavam um recanto delimitado por rochas e arbustos para o clube secreto de exíguos exploradores de terras fantásticas. Tudo isto era possível porque neste país os meninos tinham algo de muito valioso – tempo e espaço para brincar e dar asas a mundos imaginários.

Nesse país distante vivia o Pedro, o chefe do bando das caricas, que patrulhavam um vasto território nos seus carrinhos de rolamentos criados com peças lá da oficina do Ti Manel. Pedro era um menino destemido, adorava aventuras e criava todos os dias, juntamente com os seus amigos algo de novo para explorar.

Neste mundo fantástico sem televisões, vídeo jogos ou outro tipo de gadgets estes meninos eram felizes e cresciam uns com os outros, experimentando, explorando e interagindo.

O que é feito do Pedro e seus amigos?

Será que nos dias que correm existem cada vez menos espaços para estes meninos ou será que tais meninos e suas aventuras são colocadas cada vez mais em segundo ou terceiro plano?

A aprendizagem experimental – nome técnico que designa a estimulação de uma criança com base na descoberta, exploração, interacção com o mundo é apresentada como a base para o seu crescimento harmonioso e deste com os outros.

Psicólogos de todo o mundo, defendem que para uma criança até aos 12 anos de idade a aprendizagem experimental cultiva as capacidades de interagir socialmente, conhecer limitações e capacidades físicas. O direito a brincar livremente é muito mais útil, nesta fase, do que a exploração intensiva de actividades intelectuais e de memória.

Estudos desenvolvidos para apurar diferenças e consequências da aprendizagem da criança actual, mostram que esta é cada vez mais empurrada para o isolamento físico. A casa, com os seus amigos de teclas, fazem cada vez mais parte da sua rotina e o mundo exterior por explorar fica em grande parte limitado ao recinto fechado, tipo “redoma de vidro” de um parquesito de diversões, com possibilidades limitadas e brincadeiras demasiado controladas.

Estes estudos também comprovam que os pais têm a noção se os seus filhos estão ou não a ser privados da sua infância e que por consequência, crescem ou não demasiado depressa ou demasiado isolados. Um elemento comum destes estudos é que eles reconhecem que são a primeira barreira ao equilibrado desenvolvimento dos seus filhos principalmente por falta de tempo ou insegurança. Também reconhecem que as crianças são mais felizes e fáceis de lidar se puderem optar onde brincar (em casa ou na rua). A flexibilidade de horários e o agregado familiar também são apontados como sintomas. Quanto maior a flexibilidade de horários dos pequenos, ou maior o agregado familiar, mais as crianças brincam na rua e interagem socialmente. O crescente número de crianças obesas, com alergias e dificuldades de relacionamento ou concentração são apontados como principais indicadores de um crescimento desequilibrado.

Estes estudos também comprovam que os pais sentem a necessidade de dedicar mais tempo para brincar com os seus filhos e que tal disponibilidade não é compatível com as exigências laborais actuais.

E porque todas as crianças têm direito a ser crianças, embora eu não concorde com a profusão de dias “disto” ou “daquilo”, (creio que deveriam ser todos e não um dia em especial), chamo a atenção do leitor da vontade premente em criar o “Dia Nacional da Vida ao Ar Livre”, não pela importância de um dia, mas sim pelo sintoma que tal representa e alertar os pais deste país para o que os meninos de hoje virão a ser amanhã!

Por: Carla Madeira

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