Pedro Passos Coelho acredita que pode vir a ser primeiro-ministro de Portugal, já no próximo ano. O facto de nunca ter sido director-geral, secretário de estado ou ministro, longe de ser um ónus, diz ele poder vir a ser uma mais-valia. Talvez tenha razão. Se considerarmos que a gestão da coisa pública tem sido criminosa, e há quem defenda essa tese, Pedro Passos Coelho tem um álibi à prova de bala e poderá defender com sucesso a sua inocência. Mas, por outro lado, não haverá outros, muitos, alguns milhões, nas mesmas circunstâncias?
Pedro Santana Lopes acredita o mesmo. Tem no entanto uma desvantagem nesse aspecto em relação a alguns milhões de portugueses, todos eles nas mesmas condições do Pedro Passos Coelho: é que, comparado com toda esta gente, Pedro Santana Lopes já demonstrou não servir para o cargo de primeiro-ministro de Portugal.
Há ainda Alberto João Jardim. A ilha tornou-se demasiado pequena para ele. Ou, então, percebeu que a única forma de continuar a canalizar dinheiro para lá seria aproximar-se dramaticamente da fonte, no género de ficar de posse da torneira. Justa ou injustamente, ficou com a fama de fazer obra graças a “facilidades orçamentais” inacessíveis a outros no “continente”. Imagino como poderia brilhar o nosso Joaquim Valente se o governo da República decidisse assumir o passivo da Câmara Municipal da Guarda. Imaginemos agora Jardim a começar a gastar dinheiro, como primeiro-ministro, na inércia da sua experiência como presidente do Governo Regional da Madeira. Quem iria ele chantagear? A quem ameaçaria com a independência, ou com os superpoderes do seu grupo de deputados? Os alemães? E quem, com algum bom-senso, leva a sério esta candidatura?
Há outros, mas ninguém lhes recorda um sound-bite ou, sequer, os reconheceria na rua. Há ainda Manuela Ferreira Leite, prestes a fazer sessenta e nove anos e com idade para ser mãe do Pedro Passos Coelho. Como com Mário Soares, a idade parece ser para ela um óbice. Dizem que, ganhando as próximas legislativas, chegaria à presidência do governo com mais de setenta anos, insinuando-se que poderia morrer de velhice durante a legislatura ou se fosse reeleita. Já Mário Soares sofreu as mesmas objecções, abrindo-se assim as portas a Cavaco Silva e a este cinzento e silencioso (e por vezes embaraçoso) mandato presidencial.
Este incensar generalizado da juventude, promovido pela publicidade e pelos média está a afastar da vida pública muitos dos melhores entre nós. Aqueles que, após uma vida de estudo e acumular de experiência e saber poderiam realmente fazer a diferença. Depois de sucessivos governos de gente jovem, ou relativamente jovem, com os resultados que se vêem, ou adivinham, não seria boa ideia voltar a acreditar nos mais velhos?
Por: António Ferreira