O Partido Socialista convocou uma manifestação nacional de apoio às políticas do Governo. Eu, como gosto de sítios sossegados e com pouca gente, sou capaz de aparecer. Nem é preciso estar de acordo com a política de José Sócrates. Manuel Alegre também não concorda e vai com eles para o Parlamento. Além disso, é sempre bom mantermo-nos próximos de quem manda. É pela mesma razão que a maioria dos homens não pede o divórcio ou não sai de casa da mãe.
Os socialistas andam obcecados com as manifestações e com quem as organiza. Qualquer grupo de protesto é considerado agente do PCP. Como o PS é um partido igualitário, manda os seus próprios agentes, os da PSP, tomar conta da ocorrência. Os dirigentes socialistas sentem-se tão incomodados com os ajuntamentos que a semana passada a GNR identificou um grupo de mirones que se juntou à beira de uma estrada nacional para ver uma furgoneta que tinha capotado. E o autarca do partido, quando por ali passou e viu tanta gente, concluiu que o despiste tinha resultado de mais uma manobra (perigosa) de comunistas. Pelo menos o motorista trazia vestida uma camisa repleta de enormes manchas vermelhas.
O PSD de Luís Filipe Menezes também já anda pelas ruas. Nomeadamente, pelas ruas da amargura. Mas este domingo faria bem aos militantes sociais-democratas uma manifestação. Nem precisava de ser de apoio, bastava uma manifestação de carinho. Aquilo é gente que precisa de um abraço. Para Menezes, uma pequena rua chegava, não era necessário marchar pela Avenida dos Aliados. Neste momento o líder precisa mais de aliados do que de avenidas. Já o PPD de Pedro Santana Lopes anda agora mesmo nas ruas e quelhas do Portugal profundo. É bastante louvável a atitude de Santana Lopes de querer finalmente conhecer o país que quase governou. E agora, como líder de bancada parlamentar, tem muito mais tempo livre do que como Primeiro-Ministro, uma vez que os convites para festas no T-Clube e entrevistas em S. Bento diminuíram significativamente.
Os dirigentes do CDS-PP têm mais dificuldades para promover acções de rua junto do seu eleitorado, uma vez que a auto-estrada do Estoril é demasiado movimentada para promover uma partida de bingo ou um torneio de bridge como acção de protesto. Os populares preferem organizar caçadas em parques de sobreiros, patrocinadas pela Rank Xerox.
Quem se sente como em casa nas manifestações de rua são os partidos e organizações de esquerda, como sindicatos, associações cívicas progressistas e malabaristas do Chapitô. Estes últimos com mais propriedade, porque vivem no mesmo sítio onde se manifestam. Deles se pode dizer que levam o trabalho para casa.
O Partido Comunista e a CGTP são os grandes organizadores de marchas e manifestações do Portugal democrático. De tal forma, que prestam serviços em outsourcing para outras entidades. Para a marcha deste sábado, o PS alugou ao PCP vários megafones, dois ou três palanques e aproximadamente 650 manifestantes.
O Bloco de Esquerda habituou-nos ao comício em movimento, a que chamam arruada. É uma espécie de arrastão de praia, mas com intelectuais brancos vestidos com Lacoste. O distingue as arruadas das manifestações é a ausência da polícia e presença de Francisco Louçã.
O governo espera que Portugal saia à rua e manifeste de forma ruidosa o seu grau de satisfação. Se estiver bom tempo, acredito que em vez de celebrar os feitos do Eng. Sócrates, os portugueses ingratos vão passear até à praia. Eu não gosto de praia. Tem sempre muita gente.
Por: Nuno Amaral Jerónimo