O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) publicou na semana passada os dados relativos aos licenciados inscritos nos Centros de Emprego. Foi a primeira vez que em Portugal foi publicada informação relativa ao número de licenciados desempregados por curso e instituição de ensino superior. Esta informação é essencial para que os candidatos ao ensino superior possam fazer escolhas mais informadas e racionais.
Um artigo em que participei, a publicar num dos próximos números da revista “Higher Education”, identifica desequilíbrios muito significativos entre procura e oferta no sistema de ensino superior português. Se, por um lado, existem instituições e áreas de estudo com um enorme potencial de expansão, por outro lado, existem instituições e áreas de estudo em clara contracção.
Aqueles desequilíbrios entre a procura e oferta do ensino superior público português resultam da rigidez existente na oferta de ensino superior em Portugal. A correcção destes desequilíbrios será inevitável e está já a ser sentida por várias Universidades e Politécnicos, que atravessam sérias dificuldades financeiras.
A demografia, apesar de ser uma causa importante desta tendência, não explica tudo. A análise da procura de cursos similares de diferentes instituições localizadas na mesma área geográfica permite identificar níveis de procura muito diferenciados, sugerindo que os candidatos nas suas escolhas têm em conta a qualidade da instituição e a futura empregabilidade dos cursos.
No entanto, dada a insuficiência de informação sobre a qualidade dos cursos e instituições, muitas das escolhas, sobretudo das famílias com mais dificuldades no acesso à informação, estarão longe de ser óptimas. A publicação do relatório sobre a empregabilidade dos licenciados – e não sobre a procura como o título sugere – pelo MCTES poderá contribuir para uma melhor afectação entre procura e oferta e irá certamente acelerar o processo de ajustamento em curso no ensino superior público português. Acredito que seja esse o objectivo do Governo. No entanto, reduzir os objectivos do ensino superior à empregabilidade dos seus licenciados e bacharéis é muito perigoso.
A grande incógnita, comum a todas as grandes alterações em curso no sistema de ensino superior português, de Bolonha ao RJIES, é se quando terminar este processo de ajustamento as instituições portuguesas estarão mais capazes de cumprir as suas missões, entre elas a de formarem recursos humanos e produção científica competitivos internacionalmente.
Por: Fernando Alexandre