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Raciocínios

Bilhete Postal

A necessidade de ser membro de algo, de participar incondicionalmente de um grupo, de ser acrítico em posturas específicas, de ser em roupa um ícon, de ser em ausências falado, de ser um sem opiniões, um cinzentão a imaginar um lugar, é desprezar raciocínios e enjeitar sugestões. A tarefa impensável dos silêncios por entre vídeos, televisão, cinemas, telefonemas fúteis. A insuportável tarefa de pensar, a vergonha de ser outrem na matilha. Tudo isto é plástico, tudo isto é composto de vácuos e de ausências num território de imitações e de cumplicidades infundadas. As pessoas agregam-se em torno de facilidades que se pagam em actuações inócuas, em raciocínios adiados. E não se questionam, não se impõem dúvidas, não se exigem explicações, não interrogam os aforismos. Gestualizar como os outros, articular em tom semelhante, verbalizar frases feitas, contar as mesmas graças e repetir infindavelmente o que disse o avô é fastio, é falta de cidadania. Ser inteiro é questionar, verbal izar desacordo, sugerir outro modo e sobretudo interrogar raciocínios.

Por: Diogo Cabrita

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