Arquivo

«As pessoas pensam que determinada infraestrutura só é positiva se estiver na sua terra»

Cara a Cara – Entrevista

P – Defendeu, recentemente, a construção de um aeroporto internacional de “low cost” junto à PLIE, na Guarda. Com que argumentos?

R – Antes de tudo, deve ser consensual na região que, a haver um aeroporto internacional na zona Centro, ele tem de ser criado no interior. Um projecto desta natureza faria todo o sentido para impactar o desenvolvimento económico, ganhar sinergias com Espanha e resolver alguns problemas de acessibilidades. Porém, se me perguntar onde é que o aeroporto deve ficar exactamente, aí é que já tenho dúvidas, porque não podemos ir atrás, apenas, de intenções camarárias. Qualquer Câmara pode reivindicar um projecto destes. Inclusivamente, Castelo Branco também já disse que queria. A questão da Guarda – e aliás, eu nem falei exactamente na cidade, mas sim na zona transfronteiriça – prende-se com o facto de se tratar de uma zona de chegada importante na Ibéria, de fronteira. Parece-me que o aeroporto, para ser de cariz internacional, como se pretende, deve estar instalado numa zona que permita, por um lado, a difusão de turistas para todos os pontos do país e, por outro, estar próximo de importantes vias de comunicação, como a A23 e a A25. Mas não posso afirmar se esta é a melhor opção, porque não conheço estudos que, do ponto de vista técnico, indiquem o local mais adequado. Entretanto, em vez de estarmos a avançar com um local, é necessário pormo-nos de acordo – agentes económicos e institucionais – quanto ao facto do aeroporto ter que ser construído no interior Centro e levar a cabo estudos para que se possa chegar ao local que, do ponto de vista logístico, técnico e de localização sirva melhor a região.

P – Mas não considera que fará sentido construir um aeroporto na Covilhã?

R- A ideia é nobre e julgo que é positivo ter-se avançado, politicamente, com ela. No entanto, é preciso não esquecer que outras Câmaras também já manifestaram essa vontade. Portanto, não podemos ir agora atrás de um projecto só porque foi o primeiro a surgir – isso não significa que seja o melhor.

A Covilhã tem potencial e, segundo me fez chegar um vereador da Câmara, já há estudos que referem algumas vantagens. E eu não discordo, obviamente, da implementação de um aeroporto na Covilhã. Até existe o curso de Ciências Aeroespaciais na Universidade da Beira Interior que poderia fornecer profissionais para dar apoio nas questões de logística, manutenção e tráfego aéreo. Mas não são 30 ou 40 quilómetros de distância que inviabilizarão isso. Por vezes, as pessoas pensam que determinada infraestrutura só é positiva se estiver na sua terra, uma ideia que é preciso inverter. O fundamental é partir-se para a análise da viabilidade económica e sustentabilidade da infraestrutura, além de se estudar a localização onde poderá servir melhor o conjunto da região e esse estudo, julgo, ainda está por fazer.

P – Ainda assim, a ideia que lançou em Manteigas poderá ser interpretada como uma provocação?

R – Um bocado. Fi-lo também para fazer pensar as pessoas, para que não se defenda uma ideia sem estudos prévios e para evitar que, daqui a uns anos, se chegue à conclusão de que o lugar ideal para a construção do aeroporto seria outro que não o escolhido.

P – Acha que o tema “aeroporto” é a nossa “OTA” local?

R- Eu tenho receio disso. Sei que há abertura por parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro para discutir o problema e que há abertura para pedir ao Governo que esta infraestrutura seja considerada. Mas nada sei de planos de investimento concretos. De resto, penso que nunca ouvi falar – e foi também por isso que emiti a minha opinião – na hipótese de se considerar a zona transfronteiriça para receber um possível aeroporto. Penso que um equipamento desta dimensão só pode ter impacto económico se tivermos Espanha do nosso lado. Isso permitir-nos-ia ganhar sinergias muito importantes.

P – Não haverá outras áreas prioritárias para a região que a construção de um aeroporto?

R – Obviamente que sim. Aliás, penso que esta é uma infraestrutua a agendar e a estudar com seriedade para levar a efeito daqui a uns anos. Na região, há questões inadiáveis e que estão adiadas há muitos anos, como a travessia da Serra (a aposta na ligação entre Castelo Branco e Viseu) ou a formação de quadros relacionados com o turismo. Temos belezas naturais fabulosas, rotas interessantes e um património histórico-cultural fabuloso, mas não dispomos de profissionais na área do turismo devidamente qualificados. Aliás, nem uma operadora turística temos. Assim, começar já um aeroporto poderá ser um engano, porque é um equipamento que não vai resolver quaisquer problemas e que só servirá quando houver fluxo de pessoas e mercadorias que o justifiquem e rentabilizem.

Sobre o autor

Leave a Reply