Começou no Núcleo Desportivo e Social (NDS) e hoje brilha na Superliga espanhola de voleibol. Depois de ganhar tudo o que havia para ganhar em Portugal, Ana Margarida Paulo, nascida na Guarda há 27 anos, representa, desde o início da época, o Club Volei Sanse, de San Sebastian de los Reyes, na periferia de Madrid. Mas, além do sucesso desportivo, a carreira académica também não foi descurada, pois a atleta já concluiu o mestrado em Alto Rendimento Desportivo e a licenciatura em Desporto e Educação Física.
A actual capitã da selecção nacional, que soma 42 internacionalizações, não esquece as suas origens e relembra que começou a jogar voleibol aos 9 anos, após aceitar o repto de uma amiga que já representava o NDS. De resto, considera mesmo que o trabalho desenvolvido no clube da Guarda-Gare foi «essencial» para ser a jogadora que é hoje, uma vez que a «ligou de tal forma à modalidade, ao ponto da prática da mesma ser uma condicionante num conjunto de opções» que tomou na sua vida. «O querer não só jogar voleibol, mas o aspirar a ser cada dia melhor, esteve no cerne das minhas opções académico-profissionais e do local onde prossegui os meus estudos universitários, a cidade do Porto, onde se concentram muitos dos clubes de topo da modalidade», recorda. Assume também que gostava que o NDS reactivasse a secção de voleibol, até porque a «aposta na diversidade da oferta é o caminho a seguir para os clubes do interior do país». Chamada pela primeira vez à selecção nacional aos 16 anos, Ana Paulo considera que a Guarda está «muito bem representada» no projecto “Gira-Volei” da Federação Portuguesa de Voleibol, onde já alcançou vários títulos nacionais. Contudo, os jovens «não encontram depois a forma de dar o salto para a prática federada na cidade, em escalões mais elevados», lamenta, daí sugerir que o NDS «poderia ser a solução».
Depois do NDS, ingressou no Boavista, a que se seguiu o Famalicão e o Académico da Trofa, tendo conquistado uma Supertaça, três Taças de Portugal e dois campeonatos nacionais da A1, a Iª Divisão do voleibol português. A oportunidade de rumar a outro campeonato resultou de um desejo seu de procurar «maiores desafios», a que se juntou o «incentivo» de diversas pessoas para que abraçasse uma nova “aventura”. Partiu então para o Club Volei Sanse, onde a época começou «muito bem», com a titularidade e a nomeação para o sete ideal da primeira jornada. Contudo, «apesar de extremamente estimulante e desafiadora», a época está um «bocadinho ensombrada por algumas lesões», primeiro no ombro e, agora, no joelho. Apesar disso, Ana Paulo está satisfeita a nível colectivo, pois a equipa ocupa o quarto lugar, «acima das expectativas iniciais», sublinha.
Também a adaptação a um novo país e à língua correu da melhor forma, até porque San Sebastian de los Reyes é uma cidade pacata. «É a situação ideal para trabalhar/treinar. Estou a 30 minutos de tudo o que Madrid tem para oferecer. A adaptação foi fácil, já que, sócio-culturalmente, Espanha é bastante similar a Portugal e o apoio do clube foi excelente», reconhece. Quanto ao futuro, confessa que está numa «encruzilhada», com diversas opções como «continuar os estudos, o ensino ou o voleibol». Já jogar em Itália, a melhor Liga da Europa, «seria fabuloso», mas Ana Paulo não está muito convicta de que tal possa ocorrer por causa de diversos factores que influenciam a opção, como a «vida familiar e profissional». Questionada se se considera a melhor jogadora portuguesa da actualidade, a atleta da Guarda é modesta na resposta: «O “melhor” é um conceito muito relativo e permeável a muitos factores. Trabalho muito e procuro sempre exceder-me, o que tem dado bons resultados, mas o voleibol é um desporto colectivo». Na sua perspectiva, é apenas «privilegiada, pelo percurso que me foi permitido seguir, e determinada, por agarrar as oportunidades que tive».
Ricardo Cordeiro