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O nosso pixel azul

A famosa fotografia do nosso planeta, foi obtida à distância de 6,4 mil milhões de quilómetros, pela sonda Voyager 1, a 14 de Fevereiro de 1990, a partir da imensidão do espaço. Nessa foto, a Terra não passa de um insignificante pixel azul rodeado por infinitos pontos estéreis, o que nos leva a pensar que tudo o que fomos e somos, tudo o que sonhámos, inventámos, conseguimos, aprendemos e empreendemos, mas também explorámos e destruímos, aconteceu e acontece no nosso pequeno “pixel azul”. A dita foto recorda-nos a nossa infinitesimal posição no Universo e que não teremos escapatória se as coisas por aqui se tornarem insustentáveis. Ficaremos como peixes dentro de um pequeno aquário de água suja, se não invertermos urgentemente a tendência e continuarmos a ignorar os sinais. Acabaremos por sufocar sob a sujidade dos nossos próprios erros e ninguém nos virá mudar a água.

A Terra é um gigantesco ecossistema global, onde tudo está interdependente, pelo que TODOS temos que cuidar dela. À semelhança da máxima: “Muito poucos, fazem muito”, o que cada um de nós fizer a favor do ambiente, conta!

É já um facto científico que os gases com efeito de estufa (principalmente o metano e o dióxido de carbono), são um dos factores responsáveis pelas, alegadas, alterações climáticas. Para uns, o Homem é o único responsável, para outros, os ritmos astronómicos que condicionam a órbita terrestre, como períodos de maior verticalidade do eixo terrestre e concentricidade orbital, fazem com que a Terra receba maior quantidade de radiação solar, levando a um natural aumento das temperaturas médias globais e, somando as actividades humanas poluentes, obtemos um quadro de agravamento da situação. Existe ainda a terceira via que simplesmente nega a existência de um verdadeiro aquecimento global e tem como acérrimo defensor Michael Crichton, no romance Estado de Pânico.

Independentemente de quem tem razão, urge tomar atitudes ecológicas, no nosso quotidiano, uma vez que o desenvolvimento da humanidade está a tornar-se insustentável. A agravar o cenário pré-catástrofe, temos as emergentes economias chinesa e indiana que, quais cópias defeituosas das sociedades civilizadas, sorvem alarvemente os já depauperados recursos naturais locais e mundiais, não tendo aprendido com os erros dos outros. Para sustentar o seu crescimento, na procura de padrões de vida ocidentais, estão a ajudar a acabar com o planeta. Estima-se que dentro de poucos anos a China seja a primeira economia mundial e que, se o seu crescimento não abrandar, dentro de trinta anos será necessário outro planeta Terra(!), só para suprir as suas necessidades de recursos naturais.

Como consumidores, temos uma palavra a dizer pois podemos sempre escolher, mas para podermos escolher é também necessário que nos façam propostas ambientalmente correctas, para que possamos optar, e quando isso não acontece, podemos sempre optar por não consumir determinados produtos. Daí que eu seja, mais um, daqueles tipos “esquisitos” que nunca quer sacos de plástico; que acha estúpido que alguém ponha o pão num saco de papel e, em seguida, o enfie num saco de plástico para o transportar; que separe o lixo em casa, incluindo orgânicos, reduzindo drasticamente o desperdício; que tenha reduzido o caudal das torneiras de casa ou que tenha substituído as lâmpadas de casa por outras mais eficientes; etc. Enfim, há milhões de atitudes que podemos tomar para reduzirmos a nossa pegada ecológica e tenho esperança que tipos vistos como excêntricos, por tomarem atitudes ambientalmente sustentáveis, passem a ser a regra pois, independentemente da Terra estar, ou não, a aquecer, esta irá sempre agradecer que consumidores ávidos dos seus recursos comecem a solicitá-la menos e a apostar fortemente na regra dos três “erres”, da qual o “erre” mais importante é o primeiro, REDUZIR, e só depois deverá optar-se por Reciclar e Reutilizar.

Se assim não for, não há “pixel azul” que resista muito mais tempo e, daqui por uns anos, quando a Voyager 1 for interceptada, por outras formas de vida, algures no Universo, irá exibir imagens e sons de uma civilização tão gananciosa, que acabou por colapsar sob o peso da sua ambição e vaidade, tendo-se extinguido de seguida.

Será que ainda vamos a tempo de evitar a nossa própria extinção?

Por: José Carlos Lopes

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