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Uma “carreira” de sucesso

Tudo começou há mais de 75 anos, em Aldeia Viçosa

Tudo começou há mais de 75 anos, em Aldeia Viçosa. José de Almeida Tonico era um abastado comerciante de batatas, azeite e castanha da aldeia do Porco (hoje Aldeia Viçosa). Casou aos 19 anos e, pouco depois, iniciou a sua actividade na área dos transportes com a aquisição de uma camioneta de carga. Em 1929 teria já dois veículos de transporte de mercadorias e entra, então, no transporte de passageiros ao obter a concessão da ligação Porco – Guarda. A “andorinha”, um veículo da marca americana Chevrolet, foi a primeira carreira a ligar o vale do Mondego à cidade.

Poucos anos depois, em 1934, aposta em novas ligações ao adquirir a empresa concessionária das ligações entre a Guarda e os concelhos de Gouveia e Seia. As carreiras de passageiros de José de Almeida Tonico passam, assim, a ter um carácter regional. Mas seria no final dos anos trinta, com a aquisição da concessão da ligação Guarda-Covilhã, que o transporte de passageiros do comerciante originário de Porco passa a ter dimensão.

Os transportes rodoviários de passageiros ainda não eram o ramo em que se destacava o comerciante, então, cada vez mais, conhecido por Tonico. As suas carreiras iam ganhando novas rotas entre Caria e o Teixoso ou outras aldeias da região. As peregrinações a Fátima, em especial a 13 de Maio, foram um importante contributo para a afirmação, e lucros dos alugueres, da empresa. Quando se mudou de Aldeia Viçosa para a Guarda, em 1945, fê-lo por perceber que já não podia estar longe do seu mercado e que estar numa aldeia era, manifestamente, estar isolado e seria contraproducente para os seus negócios. É nesse tempo que a marca “Joalto” começa a ganhar forma – como abreviatura de JOsé de ALmeida TOnico.

A afirmação da empresa como a “Rodoviária das Beiras” consubstancia-se com a aquisição de mais carreiras e a obtenção de novas licenças ou concessões para outras localidades. Com instalações na Guarda e na Covilhã (Teixoso) ganha dimensão regional, mas é essencialmente nos anos oitenta com as ligações “expresso” para Lisboa e depois para o Porto que a empresa consegue um crescimento extraordinário. Em simultâneo, a empresa posiciona-se estrategicamente aquando das privatizações, com vista à aquisição de algumas empresas então na propriedade do Estado. Foi assim que entraram no capital da Rodoviária do Tejo (inicialmente com 25 por cento) e na Rodoviária da Beira Interior (inicialmente com 50 por cento). Posteriormente, e na óptica da maior rentabilização de recursos e sinergias, a Joalto adquiriu outras empresas como a EAVT, a BeiraDouro ou a Viúva Carneiro (de que se afastaria posteriormente). Desta forma, no início do novo século, afirma-se como uma das maiores empresas de transporte de passageiros a nível nacional.

Com mais de setenta anos, a Joalto tem hoje pouco a ver com a “carreira” do Porco à Guarda, com que José de Almeida Tonico iniciou esta história de sucesso empresarial. Com mais de 1200 colaboradores, em empresas disseminadas um por pouco por todo o país, o Grupo Joalto manteve, até agora, o seu capital concentrado na família. O presidente do Conselho de Administração, José Luís Almeida, neto do fundador, tem conduzido a empresa nos últimos 15 anos. Após a asseveração como empresa de dimensão nacional a aposta de futuro passa pela consolidação dos resultados e a internacionalização. Assim, a entrada no mercado alemão, em parceria com duas empresas espanholas, foi uma recente aposta através da aquisição da Deutsche Touring, o mais dinâmico operador de transporte de passageiros da Alemanha. Sexta-feira anunciou, em Lisboa, a criação de uma holding com a Trasdev, uma multinacional francesa, que lhe permitirá liderar uma nova dimensão. Nasceu no meio rural, mas a interioridade não impediu a Joalto de se tornar no segundo maior transportador de passageiros de Portugal. Hoje, parte dos processos de gestão do grupo foram transferidos para Lisboa, mas nem assim a empresa abandonou a sua identidade regional e guardense.

Luís Baptista-Martins

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