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Azedumbre

A propósito de uma alma penada que dizia mal de quem a depenou

Maria de Jesus encheu-se de azedumbre por se ter sentido destroçada nas suas convicções e nos seus valoramentos. Ninguém pode julgar uma pessoa que é traicionada por tantos quantos acreditava serem seus protectores. Maria de Jesus ensandeceu e, “passada dos carretos”, jurou de morte e de mal falar o mundo inteiro que amaldizeu. Maria de Jesus intoxicou a linguagem de tantos adjectivos novos e blasfémias únicas. Acidou os traidores, “eu os incendiarei de tão mal os falarei”. E percorreu ruas e cidades, e adesivou-se aos ouvidos que a quiseram recolher e avolumou-se dentro dos cérebros que a deixaram entrar. Os traidores derrompidos e esmifrados jamais esquecidos entre tanta zurze e tanta pancada. Maria de Jesus queria o Céu, mas as dores embutaram-lhe o Norte e ela se estonteou na alcolama em que se esparralhou. Maria de Jesus disse deles tudo e assim se descarregou. Do Céu não espera mais o bilhete, mas em bom falar direi que, lá no fundo dos fundos, ela acha que tanto azeitonismo é matéria de justicíssima verdade. Assim pode Deus não lhe perdoar, mas fez-se na Terra o que se não faria nos Céus. Amaldizer estes biltres que me despossuiram de tudo foi um cartuxo se balas buenas que se alevantou.

Por: Diogo Cabrita

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