Arquivo

O meu telefone não é o teu

Bilhete Postal

Eu vivo desta paródia a que chamam a gafe, vivo destes dislates interessantes e destas lógicas da gente normal. Gente normal é toda aquela que chega a directora, toda aquela que atinge o topo da carreira e que tem um discurso sempre desconexo com a sua acção. Um coçador de períneo pode ser Ministro, um fumador em áreas proibidas pode ser director, um alcoólico pode ser secretário de Estado e tudo pela qualidade da linguagem. A contenção na indignação é a primeira das obrigações de um trota-trota. Um tipo que “chega lá” pode bater na mulher, pode acentuar o vernáculo, pode cair de bêbado num jantar, pode distribuir chapadas no futebol, mas na hora das reuniões é sério, é perspicaz de oratória.

Assim podes perdoar dívidas de 12,5 milhões ao filho, podes mandar na polícia e ser escutado sem saber, podes fazer tudo desde que sejas normal. Um homem normal vai longe e por essa razão nós aguardamos saber quem sodomizou centenas de crianças na Casa Pia, nós ouvimos a directora da Casa dizer que ainda lá estão muitos e que tudo se repete. E por serem normais há pessoas que recebem salários de mais de 30 mil euros onde outros só conseguiram 1.500, e há reformas aos 33 anos de gente que fez oito de política, e há telefones que têm ruídos estranhos e são de polícias, e há envelopes que falam de escutas a presidentes. E tudo isto é normal e tudo isto é feito por gente sã. Claro que eu preferia entrar pelo Millenium e chamar pai ao Jardim Gonçalves e pedir-lhe perdão e dar-lhe as minhas dívidas para esquecer. Depois abraçar o Engenheiro Sócrates e sugerir um lugar na REN ou nas Águas, ou num desses Institutos que substitui as Direcções-Gerais, ou ser gestor de uma coisa qualquer que ele inventou, como a ERS. Meu Deus!! E doido sou eu… e não me telefonem a falar de fisco ou de recibos que podemos estar sob escuta.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply