Os sociais-democratas vão amanhã a votos desiludidos com os últimos acontecimentos da campanha para liderança do partido. Fernando Andrade, mandatário de Luís Filipe Menezes, diz-se «muito desgostoso» e receia que as polémicas afastem os militantes das urnas. Já Álvaro Amaro, mandatário de Marques Mendes, recusa pronunciar-se sobre o método de eleição, afirmando apenas que «é preciso levá-lo até ao fim». Quanto à abstenção, o líder da distrital nem quer ouvir falar nela: «Será terrível para o PSD se for elevada», considera.
Ouvidos na terça-feira, após a declaração de Luís Filipe Menezes, os dois representantes distritais dos candidatos às primeiras eleições directas do partido colocam agora nas bases a tarefa de fazer esquecer aquilo que classificam de «momento menos bom» do PSD. «Espero que os militantes anónimos dêem uma lição a quem tem responsabilidades no partido», desafia Fernando Andrade, que confessa não estar à espera do que aconteceu. «O que se passou não dignifica um partido democrático, nem os seus dirigentes, e, para primeira vez, deixa muito a desejar e pouca vontade de repetir a experiência», garante. O também presidente da Câmara de Aguiar da Beira sublinha que «num congresso não se passava isto», pelo que a experiência não deverá ser ponderada para o futuro, sustenta. Fernando Andrade lamenta ainda que se tenha debatido mais o problema das quotas «em vez dos temas que interessam aos portugueses».
E acha «vergonhoso» o caso do pagamento das quotas, mas recorda que na eleição para a distrital – em que foi derrotado por Álvaro Amaro – também aconteceram «coisas do género». Do que não duvida é que o próximo líder do PSD sairá «bastante fragilizado» desta campanha, contudo, a falta de uma maioria «clara» não será «obstáculo para uma liderança forte», augura. Para Álvaro Amaro, «todos os partidos vivem momentos destes, com mais excessos verbais e menos debate de ideias», mas a culpa será de Luís Filipe Menezes. «Perdeu as estribeiras ao falar [na terça-feira] como falou de Marques Mendes e de Guilherme Silva. Preferia que esta linguagem não acontecesse», confessa o líder da distrital, que na semana passada recebeu na Guarda o actual presidente do partido. Já a campanha do presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia não passou por cá, talvez por este ser o “reino” do amigo de Marques Mendes. De resto, o também presidente da Câmara de Gouveia garante nunca ter ouvido Luís Filipe Menezes «apelar à união do partido, ao contrário de Marques Mendes», sob cuja liderança o PSD tem sido «fantástico a mobilizar-se contra a arrogância do actual Governo do PS», considera.
«Num dos momentos mais difíceis da história do PSD, ele tem sabido definir um rumo, combater o PS e apresentar alternativas às políticas do Governo», acrescenta. De passagem pela Guarda, o candidato à liderança do partido prometeu que, se for reeleito e ganhar as eleições legislativas de 2009, colocará o interior do país na agenda política nacional. «Connosco no Governo, o interior há-de ter outra atenção, outra prioridade e outra aposta estratégica, porque Portugal é um todo e a situação que hoje vivemos é duplamente grave, porque está-se a massificar o litoral, com todos os problemas de segurança e de falta de condições de vida que isso vai implicar no futuro», afirmou.
Luis Martins