Contrariamente a muitos que não suportam mudar, eu sempre gostei de procurar novos conceitos e desvendar outros enigmas, caminhar em estradas inacabadas e percorrer de peito aberto as transformações. De facto, em simultâneo, detesto o Manuel Ácaro, o Zé Veneno, o Pedro Inveja e tantos que cruzam comigo nesta estrada para rumo desconhecido. Vem tudo isto a propósito do picar de ponto que vamos fazer, nós os médicos, a partir de Janeiro de 2008. Achei bem porque sempre houve quem não cumprisse, mas também recordo que todos eles tinham director e tinham responsáveis que os deixavam não cumprir. Até havia entre os mais faltosos os que escolhiam a exclusividade para faltar mais tempo. E nada, uma única voz que se levantasse? – Nunca. São os nossos líderes que falham e prevaricam e, por isso, as normas para substituir o mando. Chamados à razão, era ofensa e difamatório. E se ninguém os obrigava a cumprir essa é a razão porque, hoje, todos vamos ter de colocar o dedo. E isso significa trabalho? Pelo contrário, os prevaricadores lá vão continuar a nada fazer, a tudo deixar para outros. Nas suas revistas pousa o ácaro e o pó. Nos seus gabinetes entranha-se a teia das aranhas. A contusão de uma medida transporta violência para quem sempre deu e cumpriu. É o problema das justiças feitas às cegas com cumprimento de normas legais. Aqui os que davam relatórios fora da hora de serviço, os que apresentavam trabalhos criados em casa, os que imaginavam novas soluções sem horas, tornam-se absentistas. Afinal, porque não se obrigava os faltosos a cumprir? Afinal, porque não se geriam as pessoas com a justiça e a seriedade que tudo constrói? Não tenho nada a temer do ponto, mas olho o veneno de dezenas de administradores sem horário, de directores isentos de horário e percebo como isto tudo vai destruir as instituições onde ganhamos pouco e militamos muito. Tanta coisa que nasce da boa vontade pode ser perdida assim. E bem! – dirá o dinamarquês, onde todos cumprem, e o trabalho é equitativo e o director vigia e aplica sanções justas, e as pessoas ganham salários razoáveis para a função, e esquecem o ofício depois da hora. A militância, o vestir a camisola vão acabar, e isso tem inevitáveis consequências.
Por: Diogo Cabrita