A “silly season” (estação tola) costumava caracterizar-se pela ausência do chamado noticiário sério que, na época de Verão, é substituído por um mais ligeiro, menos profundo. Tem funcionado lindamente em todos os países e mesmo os melhores jornais não lhe resistem.
Mas Portugal, tão pródigo em originalidades, trouxe ao mundo um novo estilo de “silly season”: aqui, certos actores políticos (que deveriam ser sérios e comedidos) passaram, eles próprios, a fazer tolices. Isso permite que o noticiário se aligeire sem necessidade de maior criatividade de editores e jornalistas. É interessante.
Depois dos desastres do Chão da Lagoa e do Pontal, de onde Marques Mendes não saiu propriamente em braços; depois de José Luís Arnaut assumir a responsabilidade por um financiamento irregular embora dizendo nada saber do assunto; depois de muitos apoios ao líder nas directas serem condicionais (Miguel Relvas deu uma ‘moratória’ a Mendes), não se percebia bem de que modo os sociais-democratas ainda podiam abrilhantar a “silly season”.
Mas eis que se descobriu que o candidato da oposição interna, Luís Filipe Menezes, presidente da Câmara de Gaia e ex-secretário de Estado, tinha um blogue recheado de plágios.
Menezes nem se impressionou. Embora ao fim de contas ele pretenda liderar o partido e eventualmente ser primeiro-ministro, não é homem para se preocupar muito com o facto de sacar (há, mesmo assim, palavras mais fortes) propriedade intelectual aos incertos utilizadores da Wikipédia.
Passando-se por vulto cultural, o candidato copiou da enciclopédia gratuita “online”, e sem qualquer referência, artigos sobre Torga, Antonioni ou Bergman. Fez bem, que um candidato há-de dar cultura ao povo.
O problema, terão pensado por lá, não foi a cópia, foi o saber-se. E vai daí, contratando-se uns consultores de imagem (ou, se preferirem a expressão americana, uns “spin doctors”), tratou-se de culpar quem deve ser culpado: o assessor.
O “spin doctor” veio também dizer que o blogue é pessoal e não do candidato ao PSD (será a pessoa mais descuidada do que o candidato?) e que quem escreveu os alegados plágios foi o maldito assistente do dr. Menezes.
Ora aqui está uma ideia para o futuro de todos os políticos: culpar os assessores! Com o desemprego que existe, não deverá ser difícil arranjar uns tipos que fiquem com as culpas de tudo. Do Governo à oposição, não haverá mais responsáveis.
Eu sei que a ideia é tonta, mas é própria da estação…
Por: Henrique Monteiro