As previsões das adegas cooperativas da região são bem piores que as do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV). Este organismo fala numa quebra na ordem dos 30 por cento, mas as últimas estimativas apontam para perdas que chegam aos 70 por cento comparativamente à colheita do ano passado. Num momento em que os técnicos ainda estão no terreno a avaliar a situação, Bidarra Andrade, presidente da UNACOBI – União das Adegas Cooperativas da Beira Interior é cauteloso, mas aponta para um decréscimo médio superior a 40 por cento. As variações climáticas dos últimos meses são responsáveis por esta situação, mas os produtores também têm culpa no cartório. Polémicas à parte, a Cooperativa de Pinhel pondera pedir a declaração de calamidade para a vinha da zona.
Agostinho Monteiro, presidente da direcção daquela adega, espera receber 40 por cento da uva do ano passado. Uma quebra de dois terços da produção, que se deu «progressivamente». As geadas de Abril prenunciaram o pior, mas as chuvas de Maio e Junho destruíram a polinização e causaram o apodrecimento da flor, enquanto o granizo caído no passado fim-de-semana foi a machadada final. Para já, Agostinho Monteiro avalia em dois milhões de euros o prejuízo causado, pelo que pondera a hipótese de pedir a declaração de «situação de calamidade para Pinhel». Por sua vez, o presidente da direcção da Adega da Covilhã ainda não dispõe de dados concretos. Mas Bidarra Andrade diz que «tudo é subjectivo», dependendo do «estado da vinha». Com as intempéries que assolaram a região entre Abril e o último fim-de-semana, a floração ficou prejudicada e o míldio e oídio atacaram as plantações. Quanto às repercussões desta situação, «seria leviano falar agora no assunto, pois não se sabe concretamente que implicações poderá trazer», alega. Mas estas causas naturais não ilibam os produtores, uma vez que «não foram efectuados tratamentos atempadamente», considera Bidarra Andrade.
Opinião idêntica tem Albertino Nunes, presidente da direcção da Cooperativa do Fundão: «Não houve informação nem tratamento com produtos adequados, após os surtos que afectaram a vinha», critica. Atribuídas as responsabilidades, este dirigente é peremptório: «Haverá prejuízos para quem não entregar uva, enquanto os que o fizerem podem ser beneficiados». No entanto, apesar de 50 por cento da vinha estar perdida, o responsável garante que «o stock é suficiente». Na Mêda, Ricardo Lopes, chefe de serviço da cooperativa local, aponta os mesmos 50 por cento, mas calcula prejuízos para além dos decorrentes da produção. O granizo do passado fim-de-semana também caiu na região do Douro e os encargos acrescidos para minimizar danos anteriores ficaram sem efeito, pelo que haverá ainda menos dinheiro a distribuir pelos associados. No que diz respeito às maiores perdas na região, a Adega Cooperativa de S. Paio, em Gouveia, acredita que este ano receberá menos 70 por cento das uvas, num volume que não ultrapassará os 300 mil litros. Para esta cooperativa da Região Demarcada do Dão, este decréscimo pode até nem ser mau de todo: «Talvez assim os preços subam», espera João Augusto, presidente da direcção.
«Este ano ainda há muito vinho de campanhas anteriores. Mas para o ano não pode ser igual», avisa, referindo-se à quebra produtiva. Desta vez o mal será evitado se “for dividido pelas aldeias”: «É péssimo quando não há uma boa colheita, mas se houver perda em todas as cooperativas, talvez seja bom», considera. Um optimismo que, neste particular, é partilhado pela Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo. Segundo Manuel Gonçalves, director da cooperativa, só 30 por cento de produção foi destruída pelo mau tempo, mas isso não significa que os restantes 70 por cento sejam enviados para a cooperativa: «Não prevejo uma quebra tão grande como os 50 por cento apontados pelo IVV, mas sim na entrega das uvas», admite (ver caixa). Segundo o responsável, este decréscimo também poderá comprometer a qualidade do vinho. Com a maturação atrasada em cerca de 3 semanas, adivinham-se mais danos se chover entretanto.
Adega de Figueira receia ilegalidades
O director da Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo está «com medo do mercado ilegal». A denúncia refere-se a compradores vindos do Douro, que, devido às avultadas perdas de produção esperadas naquela região, são obrigados a atingir os valores exigidos pelas entidades responsáveis pela atribuição de subsídios, fixada este ano nas 1.600 pipas. Manuel Gonçalves não condena os produtores de Figueira por seguirem essa opção: «Têm toda a razão, pois há que capitalizar os prejuízos que vêm acumulando há quatro ou cinco anos. As pessoas têm de se governar», reconhece.
Ainda assim, não deixa de levantar dúvidas quanto à fiscalização e até já denunciou o caso à Secretaria de Estado competente, mas «ninguém toma medidas e nós não temos possibilidade de agir». O director da adega figueirense refere também a «disparidade entre o preço pago pelo vinho à saída da cooperativa e o que é cobrado nos restaurantes. Não é correcto que seja o vinho a suportar o custo dos alimentos», critica, receando pelo futuro do seu concelho, «essencialmente vitivinícola». Entretanto, está marcada para 9 de Setembro a Assembleia-Geral que decidirá se a Adega de Figueira de Castelo Rodrigo se juntará à Covilhã e Vila Franca das Naves para dar origem à empresa que vai gerir as três cooperativas de forma empresarial. Enquanto dirigente e produtor, Manuel Gonçalves tem fé nos «pagamentos superiores garantidos no projecto», admitindo que «sozinhos não vamos a lado nenhum».
Igor de Sousa Costa