Sempre que ouço um grande investidor dizer que pretende defender os interesses dos pequenos accionistas acho que me estão a enganar.
Pode ser preconceito, mas a meu ver os investidores querem, acima de tudo, defender os seus próprios interesses, coisa que, em si, nada tem de mal; pelo contrário, é bastante salutar que cada um defenda os seus interesses, dentro de regras e leis iguais para todos. Da multiplicidade de interesses resulta o saudável pluralismo de opiniões e de perspectivas que enriquece uma comunidade ou uma empresa. A perspectiva escolhida resulta da vontade da maioria e assim se atinge um saudável método de decisão que não tem de anular opiniões diversas ou contrárias (pese o exemplo da senhora DREN que, como ficou provado, entende o mundo de forma mais simples).
Por isso, quando Berardo diz que tem por missão no BCP defender os pequenos accionistas, ainda – como também disse – que tal lhe custe caro, eu não acredito. Como não acredito que, no caso do Benfica, ele ali esteja a defender os milhares de sócios e os milhões de adeptos; como não acredito que, no caso da Colecção Berardo, ele tenha por objectivo proporcionar ao povo português o acesso a expressões culturais inexistentes nos acervos nacionais.
Não obstante, considero que Berardo tem tido um papel interessante como animador da sociedade: tem dito verdades duras, tem tido iniciativas louváveis. Mas benemérito nunca foi. Não criou emprego, não apoiou uma grande causa que não revertesse num interesse seu. Berardo tem 20 na defesa dos seus investimentos, mas tem quase zero em altruísmo.
Eis a razão porque o seu discurso em defesa dos pequenos accionistas me deixa não só incrédulo, como desconfiado de que ele pretende um efeito totalmente diverso.
Com estas jogadas sucessivas, Berardo consegue ser a estrela da comunicação social e usá-la como parte da sua estratégia. Numa entrevista que concedeu a Mário Crespo, na SIC-Notícias, o comendador deixou, aliás, bem claro que o papel dos “media” tem sido inestimável.
Um pequeno passo de Berardo vale, em termos de comunicação, muito mais do que o correspondente dinheiro que ele investiu. Apesar não ser o maior accionista do BCP é ele quem marca a agenda mediática do banco, o que em si mesmo é um bem muito precioso. É ele quem exige demissões; é ele quem defende a retirada deste ou daquele.
Nesse sentido, Berardo procura a defesa de uma imensa minoria: ele próprio e mais ninguém
Por: Henrique Monteiro