Após ler alguma discussão sobre o jornalismo participativo, também no Observatório quero questionar directamente os meus leitores mais assíduos: “Mamã, quanto tempo é que devo deixar as peúgas no microondas até ficarem bem secas?”
Quero também desafiar quem esteja neste momento a duvidar da minha condição de adulto pelo simples facto de tratar a minha mãe por “mamã” para um jogo de Subbuteo ou para um duelo com espadas Star Wars de plástico luminoso, para ver quem é que homem. Muitos desses leitores são tão infantis que confundem as Ilhas Molucas com as filhas malucas.
Apesar de ser vilipendiado quando conduzo pela cidade, a verdade é que ser adulto exige algumas responsabilidades que enfrento sem temor. (Os dois factos até podem não estar relacionados, mas são factos. Pronto, o segundo não é, é um julgamento valorativo feito por mim sobre mim próprio. Mas é o que penso, apesar de convicções contrárias. E embora as outras opiniões sejam bem vindas a esta coluna – menos as de José Saramago sobre seja o que for – às vezes também gosto de as poder expressar.)
Se é verdade que sou solteiro e não tenho descendência, ninguém me pode acusar de ter medo do casamento ou de fobia por crianças. Se assim fosse, não teria assistido ao matrimónio de alguns amigos nem teria sido testemunha principal do casamento da minha irmã. E se tivesse algum tipo de oposição contra as crianças, teria eu tido sobrinhos? Ou mesmo vizinhos de tenra idade?
Um adulto responsável deve também contribuir para a sua comunidade, para o bem-estar comum e para a consolidação dos valores humanísticos e da dignidade humana. É por isso que me parecem importantes algumas práticas que dignificam a vida pós-adolescente, a saber:
– comprar mensalmente as revistas Maxmen, FHM, Playboy e Teens in Panties;
– tentar atingir, pelo menos uma vez por semana, o último nível do jogo preferido da Playstation (ou fazer uma época por semana no Football Manager ou no Pro Evolution Soccer);
– ler um livro da colecção Os Cinco uma vez por mês;
– ir ver cada filme do Harry Potter três vezes na semana de estreia;
– colocar post-its pela casa toda quando faltar uma semana para sair a nova edição das revistas Maxmen, FHM, Playboy e Teens in Panties;
– telefonar à mãe sempre que se sentir triste e sozinho;
– telefonar a uma irmã quando a mãe estiver no casino e não puder atender;
– ver o canal Panda um bocadinho todas as manhãs;
– continuar a escrever poemas imbecis e lamechas, mas que mesmo assim fazem melhor figura que textos como este em sessões de leitura nas sessões de psicoterapia de grupo;
– insultar Bill Gates quando o Windows bloqueia;
– aprender a apreciar a qualidade estética do grafismo de algumas revistas que se vão comprando, ultrapassando o snobismo intelectual de ler apenas os textos e não olhar para as imagens.
Tenho consciência do moralismo explícito nos parágrafos anteriores, ao propor um conjunto de regras de comportamento para que homens e mulheres se sintam reconhecidos e integrados na sociedade voraz dos dias de hoje. Haverá obviamente portugueses que assim não pensam e julguem que não há vida para brincadeiras. É um direito que lhe assiste. Só espero é que nunca mais ganhe o Nobel da Literatura.
Por: Nuno Amaral Jerónimo