A noticia do despedimento de 700 pessoas, durante os próximos meses, da Delphi, na Guarda, foi recebida com uma estranha naturalidade, não fosse a voz do sindicato, e os despedimentos aconteceriam com a maior das tranquilidades. Há muito que se antevia a proximidade do fim da fábrica (que agora fica mais perto). Ora, o despedimento de 700 pessoas, numa região onde a agricultura foi erradicada, em que a industria – sempre débil – faliu, em que a emigração foi sempre a alternativa à miséria, em que partir e deixar tudo para trás foi sempre a solução, é uma tragédia. Exceptuando a comunicação social, os sindicatos e os trabalhadores, e nem todos, a comunidade parece conformada e resignada ao devir dos tempos, à força da globalização, à fatalidade da deslocalização. Manuel Pinho o ministro do “Allgarve” e da «mão-de-obra barata para chinês ver», desde Bruxelas, mostrou o estado de espírito com que o assunto é encarado pelo Governo: insensível, distante, tranquilo… Anestesiados, ouvimos a crónica de um fim anunciado. Mas não reagimos.
Em Puerto Real, província de Cádiz, Espanha, o despedimento de 1.600 trabalhadores da Delphi tem sido motivo para todo o tipo de mobilizações. Nas comemorações do 1 de Maio, por toda a Espanha, milhares ou milhões de pessoas saíram à rua clamando contra o encerramento da fábrica, num gesto de solidariedade que em Portugal não acontece, nunca acontece. Para os espanhóis este é um problema de todos. Porventura, não conseguirão mudar o rumo dos acontecimentos, nem impedir o despedimento de tanta gente, mas, para já, conseguiram que a Comissão Europeia se comprometesse com apoios (que em consequência, e porque a situação é similar, também irão chegar à Guarda) ao ponto do presidente da Comissão, Durão Barroso, se ter deslocado a Puerto Real na terça-feira. O presidente do Governo, Rodriguez Zapatero, no mesmo dia, foi também à baía de Cádiz reunir com a comissão de trabalhadores e garantir-lhes «que nenhum trabalhador ficará desempregado» e assegurou que há quatro empresas interessadas em investir na zona e que irão absorver todos esses trabalhadores… Incrível? Sim, em poucos dias o Governo espanhol parece ter um plano de intervenção e algum tipo de solução. À escala espanhola, e considerando a dinâmica da sua economia, poderíamos dizer que é apenas mais uma empresa encerrada. À escala portuguesa, com uma economia dependente da exportação (e a Delphi é exportadora), que não cresce e em que o desemprego atingiu uma taxa histórica, impávidos e serenos, ouvimos o ministro da Economia dizer que a Delphi vai criar 250 empregos em Castelo Branco (entretanto já ocupados, claro), não ouvimos o Primeiro-Ministro, pelo menos até ao fecho de edição, e o presidente da Câmara está «tranquilo» até porque na Guarda irão ser criados muitos empregos. Não se sabe é quando. E ao que parece tem a ingenuidade de estar à espera da Plataforma Logística para ajudar a resolver o problema… Sete anos já passaram…
Luís Baptista Martins