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Pailobo aldeia sobrevivente

De Coimbra vieram os mais recentes “residentes”

O êxodo rural perpassa todas as aldeias da região. Tem sido assim também na povoação de Pailobo, no concelho de Almeida. De mais de uma centena de residentes há cinquenta anos, a aldeia da freguesia de Parada tem hoje apenas oito habitantes. Oito resistentes, de idade avançada, mas com esperança de ainda verem renascer das cinzas uma terra abandonada por todos.

Aldeia sobrevivente, em território inóspito, numa encosta sobranceira ao rio Noéme, em que a civilização «acaba ali», às portas do cemitério, como alguém nota. A estrada asfaltada termina à entrada da povoação, junto ao cemitério, mas também as redes de telemóvel “morrem” nesse sítio. A partir daí os caminhos da aldeia são em terra batida. As casas abandonadas dominam a imagem “velha” de Pailobo. Pelo meio, algumas casas recuperadas surpreendem quem chega. Um surto recente promovido por gente vinda de Coimbra, apaixonada pela agressividade da paisagem, e que comprou algumas casas na aldeia.

Primeiro foi Licínio Neves Abreu, comerciante natural de Souselas, há muito conhecedor das terras de riba-côa por ali caçar «há mais de quarenta anos». E foi numa das suas jornadas de caça que conheceu Pailobo. Acolhido muitas vezes por José Rita, o homem mais velho (93 anos) da aldeia, e toda uma figura, que apesar de não beber «oferece uma pinga a quem chega à aldeia». Às viagens como caçador sucedeu a compra de uma velha casa. «Há meia dúzia de anos comprei esta casa, que estava a cair» e durante algum tempo assim ficou, até que, acompanhado da família, decidiu meter mãos à obra e reconstruí-la. É com gargalhadas que Licínio Abreu recorda as muitas vezes que dizia «lá em casa», em Coimbra, que tinha «uma casa na serra». Até que a família teve curiosidade e foram até Pailobo. A recôndita aldeia «entusiasmou os meus filhos» e assim, entre todos, começaram a recuperar a casa adquirida no centro da aldeia, precisamente «ao senhor José Rita». Depois, chegaram outros entusiastas: «o meu irmão comprou outra casa para recuperar, depois foi o João e o arqueólogo Machado Lopes», amigos de Coimbra, e que comungam com Abreu o «prazer de estar em Pailobo». Nos últimos anos recuperaram cinco casas e ali vêem «praticamente todos os fins-de-semana», diz Licínio Abreu. Agora, há mais «um ou outro interessado» pelo que, o caçador e antigo campeão do mundo de “tiro aos pratos”, acredita que «estes pequenos investimentos são uma riqueza para a aldeia e para toda a zona». «Hoje tenho amigos em todas estas aldeias» assevera, enquanto fala da sua vivência por estas terras. «Vamos a pé até à Miuzela, que é um passeio fantástico» e a tranquilidade é absoluta. «Tenho um neto que já foi feito aqui» conclui com satisfação.

Na semana passada, a RTP, no espaço Portugal Directo, apresentou ao país a aldeia de Pailobo e a freguesia da Parada (onde a escola primária deu lugar a um museu etnográfico), um bom momento para o presidente da Câmara de Almeida, Monteiro Baptista, reivindicar mais apoios para as aldeias do interior e, mais importante ainda, evidenciar a relevância do plano “Estrela de Almeida” com o que a autarquia quer reforçar a sua dinâmica de marketing turístico afirmando Almeida não apenas como um destino, mas também como uma marca de referência regional.

Luís Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
José Catarinacho jose.catarinacho@uol.com.br
Comentário:
Me doi saber que o berço de minha família está nessa situação. Meu pai e um tio emigraram para o Brasil empurrados pela pobreza e falta de oportunidades para os jovens daquela época. Visitei Pailobo em 1998 e conheci os 18 habitantes da época, entre eles alguns parentes que, estóicamente, permaneceram na sua terra. Faço votos de que estes “novos” habitantes preservem a história de um pequeno grupo de famílias que alí começaram.
 

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