América permitida

“Há muitas dúvidas sobre o que vai mudar com a eleição de qualquer um dos dois candidatos. Infelizmente, os ventos de mudança não chegarão a Portugal.”

À hora a que escrevo estas linhas ainda não é possível saber quem será o próximo presidente dos Estados Unidos da América. À hora a que estiver a ler estas linhas talvez ainda não seja possível saber quem será o próximo presidente dos Estados Unidos da América.
Saberemos quem ganhou – aliás, isso já sabemos hoje: avençados das televisões, sortudos que venceram a lotaria do Elon Musk e a palermice. A parvoíce e a estupidez terminam esta campanha com um empate técnico, mesmo dominando de forma eloquente estas eleições e esta campanha a sensatez e a moderação.
Saberemos quem perdeu – e também já é possível saber isso hoje. Quem perdeu mais foi a minha paciência. Bem vistas as coisas, também perdi uma eleição, porque podia ter escolhido fazer outras coisas com o meu tempo que não fosse ficar especado a olhar para mapas e gráficos durante horas e a ouvir gente a tentar adivinhar quem vai ser o próximo presidente dos Estados Unidos da América como os druidas celtas tentavam adivinhar o clima prestando atenção a entranhas de galináceos.
Há muitas dúvidas sobre o que vai mudar com a eleição de qualquer um dos dois candidatos. Infelizmente, os ventos de mudança não chegarão a Portugal. Seja Donald Trump ou Kamala Harris a escolha dos norte-americanos, o presidente da nossa república continuará a ser Marcelo Rebelo de Sousa.
No último dia de campanha, Donald Trump prometeu restabelecer a paz no mundo. Em todo o mundo, excepto nos Estados Unidos da América. No último comício, Kamala Harris prometeu defender a liberdade na América. Em toda o país, excepto nas universidades progressistas.
Também sabemos – quem escreve antes das eleições e quem lê depois – que o candidato derrotado não vai acreditar que perdeu, e vai incendiar o sistema. Os democratas incendeiam carros e partem montras, os republicanos incendeiam os tribunais e partem em marcha para o Capitólio.
Dizem que esta pode ser a eleição mais renhida de sempre, e que há mesmo uma pequena possibilidade de existir empate, que levará a decisão para a Câmara dos Representantes. Mas isso é conversa de quem tem pouca memória da história, e não se recorda das apertadíssimas eleições de Novembro de 1984. Não a de Ronald Reagan, que ganhou 49 dos 50 estados, mas a de delegado de turma do 7º A, que terminou empatada, mesmo sendo eu o único candidato.

* O autor escreve de acordo com o antigo acordo ortográfico

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

Leave a Reply