O cronista ausenta-se das suas páginas por uma semana, e o que acontece? Discussões intermináveis sobre o orçamento de Estado. O cronista regressa, e estará tudo resolvido? Não está tudo igualzinho. Conclusão? O cronista faz pouca falta para resolver problemas. Mas para os ver, não há como ele. Tem ideias? Tem. E vontade de solucionar? Isso nem tanto.
Os partidos andam numa lufa-lufa (expressão técnica da Ciência Política para “reuniões que nunca mais acabam e não decidem nada”) para conseguir que o orçamento do próximo ano seja aprovado sem que os líderes sejam reprovados. Há quem lhe chame calculismo, mas estas movimentações são realmente do domínio do equilibrismo, do malabarismo e do contorcionismo. Até porque o Parlamento mais parece um circo do que uma sala de estudo.
A razão principal que nos vão dizendo é: “os portugueses não querem eleições”. Com que portugueses é que os senhores ministros e deputados têm conversado ultimamente, para terem tanta certeza? Perguntem-me, que eu respondo. Eleições? Com certeza. Vamos a elas. Venham de lá esses boletins. Convoquem já as eleições. Vamos às urnas. Quero lá saber do orçamento, do Chega, do Pedro Nuno ou da estabilidade. O prof. Marcelo prefere eleições? Já estou de esferográfica em punho, prontinho para votar em branco.
De repente, os partidos portugueses passaram a temer as eleições como quem tem medo do lobo mau ou do fascismo (quem tem um entendimento metafórico dos contos de fadas saberá que esta frase é um pleonasmo). Julgando que as eleições são a festa da democracia e a arma do povo, tive sempre a convicção que seriam também a melhor forma de evitar autoritarismos e outros sismos.
Se não se entenderem, se acharem que as linhas vermelhas são inultrapassáveis, se estiverem cansados de tantas reuniões e tantas horas de comentários nos canais de notícias, se quiserem fazer birras, ouçam os portugueses com atenção, entoando um parzinho de versos bem conhecidos:
Vão chatear o Camões,
Convoquem as eleições.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia