Há centenas de anos que a lã da ovelha Churra Mondegueira e da Churra do Campo, depois de fiada e tecida em teares inteiramente manuais, mas também de ser feltrada num pisão com água e terra e, finalmente, depois da lavada, secada e cardada, se transforma no popular cobertor de papa. «É um cobertor com pelo comprido e é um produto de memórias e afetos porque existe desde que nos lembramos», afirma a presidente da Associação “O Genuíno Cobertor de Papa”, Céu Reis, sediada em Maçaínhas (Guarda).
O cobertor de papa continua a ser «muito procurado». Na verdade, segundo Céu Reis, existe «mais procura do que produto», mas a principal dificuldade mantém-se: há falta de pessoas para o fazer. A responsável alerta que o produto genuíno «está em vias de extinção» e para que esta tradição antiga perdure é essencial «investir em pessoas que queiram e gostem de fazer o cobertor de papa – que foi um produto que sustentou muitas famílias». Atualmente, o seu fabrico na associação é assegurado por apenas quatro voluntários que trabalham para «dizer que a Guarda tem um produto único a nível mundial».
Mesmo assim, os seus produtores querem chegar a mais gente e divulgar esta arte e tradição. É exatamente esse o objetivo de participar na oitava edição da Feira Farta, que decorre na Guarda este fim de semana. Céu Reis desabafa que há quem questione «o que se faz nas aldeias», mas por lá «mostra-se o produto a quem não o conhece». No espaço da Associação “O Genuíno Cobertor de Papa” no certame vão estar «almofadas, casacos, chapéus, sacos de cheiro» e outros artefactos, todos feitos com cobertor de papa. «É a peça que não pode faltar. Sem o cobertor não fazemos nada», garante a artesã de Maçaínhas. Céu Reis tem esperança que mais pessoas se interessem por esta arte secular visto que há «muitos jovens que conhecem o cobertor». De resto, a associação tem cooperado com os Agrupamentos de Escolas da Guarda para que «os alunos visitem a associação e vejam como se trabalha esta tradição». Segundo a presidente da direção, quando os jovens conhecem as instalações «não querem sair de lá e, além de fazerem a visita com a escola, voltam mais tarde com os pais e os avós».
Sapatilha de cobertor de papa vai ser apresentada na Feira Farta
A Associação “O Genuíno Cobertor de Papa” vai apresentar publicamente o primeiro sapato feito com o material usado para fabricar o afamado produto endógeno nesta oitava edição da Feira Farta – um certame que pretende divulgar e promover os produtos da região.
Céu Reis adianta que a ideia de fazer uma sapatilha já vinha de «há muitos anos». A dirigente trabalhou durante 28 anos numa das antigas fábricas de cobertor de papa em Maçaínhas e a certa altura foi-lhe dito que «com este produto não poderíamos fazer uns sapatos», mas a ideia nunca lhe saiu da mente. Mais tarde, numa conversa com o engenheiro Nuno Andrade, confidenciou que gostava de fazer «as tais sapatilhas» e três semanas depois «ele voltou para me entregar as sapatilhas», recorda Céu Reis. Por enquanto foram produzidos dois pares de sapatilhas, mas o plano é para «avançar com este novo produto porque há muitos interessados». Futuramente, a artesã acredita que será possível encontrar este calçado no mercado, mas primeiro vai ser dada a «conhecer às pessoas de cá».