O eventual encerramento de maternidades na Beira Interior saiu da agenda política, mas não por muito tempo. A solução já está encontrada e só não foi já tornada pública porque uma coisa é a decisão técnica, outra é a decisão política e outra ainda é a divulgação pública da decisão final.
O Governo está em maus lençóis. Sempre que o assunto é saúde, a população fica especialmente sensível. Quando se trata do encerramento de unidades de saúde é pior. Se essa unidade for uma maternidade, então a situação torna-se insuportável para quem tem o dever de assumir a decisão do encerramento.
No caso da Beira Interior, o assunto é ainda mais sensível porque o primeiro-ministro e alguns membros do seu Governo têm fortes ligações à região. Se encerrar a maternidade da Covilhã dir-se-á que foi uma decisão política, pois Guarda e Castelo Branco têm câmaras socialistas, mas a Covilhã é do PSD. Se, pelo contrário, encerrarem as duas maternidades localizadas nas capitais de distrito, dir-se-á então que o primeiro-ministro privilegiou a sua cidade de adopção, a Covilhã.
Parece-me, pois, que só há uma solução: manter as três maternidades abertas. Sempre defendi esta opção como a mais correcta, não por razões políticas, mas porque estão em confronto interesses de diferentes índoles. As maternidades de Guarda e Castelo Branco devem continuar abertas por questões relacionadas com a geografia regional: em termos de localização, a sua manutenção serve melhor os interesses regionais das populações mais afastadas.
No caso da Covilhã, a maternidade deve continuar em actividade porque sendo uma unidade universitária, tem um importante contributo a dar nos campos da investigação e da formação de médicos. Está em causa o interesse da região, mas sobretudo o superior interesse do país. Face ao exposto, só vejo uma solução: deixar tudo como está.
Infelizmente foram poucos os políticos que defenderam a manutenção das três unidades. Por bairrismo, ingenuidade ou interesses políticos futuros, a maior parte apostou numa estratégia de confronto, defendendo apenas a maternidade da sua cidade. O resultado desta opção será conhecido em breve, mas ao contrário do que alguns ainda pensam, nesta luta não haverá vencedores, apenas vencidos. Encerre uma ou duas maternidades, toda a região sai a perder.
Resta ficar atento aos que vão aparecer em público para reclamar os louros da pretensa vitória. Esses serão os maiores culpados por tudo o que a região vai perder caso feche alguma das nossas maternidades.
Por: João Canavilhas