A propósito do debate televisivo com a Comissão de Reestruturação das Urgências há que fazer mais alguns esclarecimentos: Estamos no território do desabrochar de uma nova especialização médica, o terreno onde se criam regras precisas e claras de atendimento de doentes urgentes e emergentes que do ponto de vista técnico são definições também elas precisas e que se referem à presença de sensação ou risco eminente de perda de uma função vital. O aparecimento de uma especialidade obriga a criar um território a marcar um espaço de desenvolvimento e traz mais luz sobre a realidade que até ali existia. Assim estão a aparecer os “emergencistas” do nosso país que tratam sobretudo os doentes definidos por fluxogramas que se encaminham por call centers. Linhas de atendimento telefónicas, que levam à decisão da via a seguir, na rede de urgências que se pretende criarem. Atenção, que call centers são também grandes negócios novos que surgirão na rede sob a forma de outsoursing para o sistema de saúde. Agora o que em Portugal é inovador é a negação por completo da pré-existência, a negação de um modelo que hoje se afirma falido mas atendeu 5 Milhões de pessoas por ano. E podia haver uma relação com este modelo que agora se destrói? Claro que sim. Podíamos ter dado formação adequada em emergência a quem atende nos SAP e ir montando uma rede nova que com o tempo se implementava. O que vamos ter é um conjunto de novas estruturas – os Serviços de Urgência Básicos que vão ter uma enorme afluência de pessoas que a meu ver os vão afogar dentro de dois a três anos. Abre-se uma porta com qualidade e a lição é a de que abrindo uma porta o sistema sempre a utiliza. Serão SUB num país onde os médicos de família envelhecidos estão a seis anos de diminuir catastroficamente por via da reforma da maioria, e da ausência de jovens por números clausus extemporâneos e incompreensíveis. As Unidades de Saúde Familiares têm pois este destino cruel que é competir com SUB altamente sofisticados e equipados e o povo esperto vai desaguar onde há análises e imagiologia. A ver vamos da reforma se não a pensarmos com cuidado. A isso se chama “estudo do impacto das medidas” e à análise do passado: o screening do modelo anterior.
Por: Diogo Cabrita