Sociedade

Emoção e gratidão na homenagem ao Capitão Valente

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Escrito por Carlos Gomes

Maria Alice Valente, viúva do militar de Abril, recebeu a Medalha de Honra do município, grau ouro, e alertou que
«não há futuro fora da democracia»

Gratidão e satisfação. Foi neste misto de emoções que decorreu, na Guarda, a sessão solene dos 50 anos do 25 de Abril com a homenagem, a título póstumo, ao então capitão José Augusto Monteiro Valente, o capitão Valente, como ficou conhecido. Em 1974, o oficial liderou a revolução na cidade, onde assumiu o comando do Regimento de Infantaria 12, antes de rumar com uma companhia para fechar a fronteira em Vilar Formoso.
Maria Alice Valente, esposa do militar de Abril, recebeu das mãos do presidente do município, Sérgio Costa, a Medalha de Honra, grau ouro, e o título de “Cidadão Honorário” da Guarda. No seu discurso, a viúva do capitão Valente agradeceu à Câmara esta homenagem e começou por manifestar «calorosos votos de esperança» no dia evocativo dos 50 anos da Revolução dos Cravos, sublinhando que «foi indubitavelmente uma das revoluções mais belas do mundo, como referiu a poetisa Sophia de Mello Breyner». Maria Alice Valente destacou também «a ação dos jovens militares, cidadãos que contribuíram decisivamente para a recuperação da nossa voz e da nossa liberdade», antes de recordar o marido, falecido em 2012. «É com um profundo sentimento de saudade que evocamos o Augusto José, o meu marido, com quem vivi quase 40 anos», lembrou.
Mais do que o tempo, Maria Alice Valente salientou «as qualidades» de Monteiro Valente como «um ser excecional, um familiar preocupado com os seus e um cidadão pró-ativo» que tentava sempre «passar uma mensagem de paz, cordialidade e fraternidade, norteado por valores éticos e morais que desde cedo adquiriu». Cinquenta anos depois de «um dia indescritível», «cabe-nos preservar o que temos, cuidarmos das conquistas desencadeadas generosamente pelos nossos jovens militares, como Augusto José referiu», acrescentou, dizendo ser fundamental «uma exigência permanente de melhor democracia, de mais cidadania, mais progresso e justiça social», pois «a história ensina que não há futuro fora da democracia, e para melhor a honrarmos, nada mais próprio que a evocação e preservação dos valores de Abril, pelos quais Augusto José lutou e acreditou até ao fim».
«Que o destino perpetue a memória deste dia da Revolução do 25 de Abril e dos militares que, à semelhança do jovem capitão Augusto José Monteiro Valente, tiveram a coragem de sair às ruas e desencadearem o sonho em que acreditaram. Para todos, um abraço inteiro e limpo», concluiu, emocionada.
Coube ao professor guardense António José Dias de Almeida, também militar em abril de 74, mas em Moçambique, proferir o “elogio” a Monteiro Valente, a quem manifestou «a minha, ou melhor, a nossa imensa gratidão a um militar íntegro, democrata, verdadeiramente imbuído do espírito democrático e dos valores do 25 de Abril, o nosso, muito nosso, Capitão Valente. Uma ausência em presença, que merece iniludivelmente a homenagem que nesta sessão lhe prestamos pelo papel crucial que assumiu em prol da consolidação da liberdade e da democracia».
Por sua vez, Sérgio Costa, presidente da autarquia, destacou «o simbolismo e o orgulho» desta cerimónia, que considerou uma «justa homenagem ao nosso Major-General Augusto José Monteiro Valente». Na sessão intervieram ainda o presidente da Assembleia Municipal, representantes das forças políticas representadas naquele órgão e o primeiro presidente da autarquia eleito em democracia. Vítor Cabeço falou dos acontecimentos de Abril de 74, do antes e do depois, alertando que «há um perigo que neste momento corremos, com o renascer de pensamentos políticos serôdios e ultrapassados que já foram experimentados há cem anos. Discursos autoritários militaristas, que nunca podem ter um bom sucesso, porque o sucesso que tiveram essas mesmas correntes, há 100 anos, foi contribuírem muito decisivamente para a II Guerra Mundial, coisa que nós não queremos que se repita», afirmou.

Sérgio Costa reclama obras do Poder Central

No seu discurso, o presidente do município aproveitou para relembrar que o território português continua a ser tratado de forma desigual.
«Enquanto na Europa uns fazem a guerra para arranjar espaço vital, em Portugal abandona-se o território e, principalmente, as pessoas do interior. Muitos portugueses estão fartos de ser esquecidos pelo poder central e muitos guardenses anseiam pelo Hotel Turismo, pelas variantes dos Galegos e da Sequeira, pela segunda fase das obras do Hospital da Guarda e finalização das obras da Linha da Beira Alta, pelo Porto Seco e Plano de Revitalização da Serra da Estrela, pela transferência das instalações do Comando Territorial da GNR, por novas residências de estudantes e por uma estrada segura para Coimbra. Todo o interior está farto de ser um Portugal esquecido, quase abandonado, muitas vezes. Mas vamos continuar a reivindicar os nossos direitos», declarou Sérgio Costa.
O edil independente anunciou também que a cidade vai ser palco, em outubro, das comemorações do Dia do Exército Português. «Foi um desafio lançado pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, o general Eduardo Mendes Ferrão, à Câmara da Guarda que aceitámos naturalmente», disse, salientando que a efeméride «não é apenas uma celebração, mas um reconhecimento do papel crucial que a nossa cidade e os seus cidadãos tiveram, na história da nossa liberdade e soberania nacional».

Carlos Gomes

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