Cara a Cara

« O nosso objetivo é preservar e divulgar aquilo que temos, honrar os nossos ancestrais e não deixar esquecer as nossas raízes»

Conceição Cardoso
Escrito por Efigénia Marques

P – Foi apresentado o prémio literário Padre José Júlio Esteves Pinheiro. Em que consiste este galardão e qual foi a inspiração?
R – Este prémio inspirou-se no padre José Júlio Esteves Pinheiro e no seu percurso de vida, na sua pesquisa, na sua observação e na união. Portanto, naquilo que tentou transmitir em termos culturais e partindo sempre da sua própria avaliação, estudo e essencialmente a sua procura pela aquisição de conhecimento. Isso permitiu-nos, inclusivamente, numa primeira fase da nossa Fundação – que criou o prémio – construir uma biblioteca com todo o acervo documental que ele tinha, que está colocada na Biblioteca Municipal Maria Natércia Ruivo, em Almeida. Estamos a falar de um acervo de mais de 25.000 livros. Esse foi o nosso ponto de partida para criar este prémio, além da leitura, da divulgação da língua portuguesa e da união com a nossa diáspora.

P – O prémio foi criado pela Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro. Quais são os seus objetivos e como é que Conceição Cardoso se tornou presidente?
R – Os objetivos partem dos trabalhos do padre José Júlio, que é da minha família, aqui da Malhada Sorda. Ele é primo direito da minha mãe. Quando faleceu nós já conhecíamos um pouco das suas vontades relativamente à junção de todo o espólio que ele tinha em diferentes pontos do país e após a sua morte as minhas primas conversaram comigo e pediram-me ajuda para gerir o património dele. Juntamente com outros elementos da família tentámos perceber o que iríamos fazer e qual a melhor forma de podermos dar seguimento a todos estes sonhos, que é de facto o alicerce desta Fundação. E surgiu então a ideia da Fundação, somos 6 elementos da família a dar vida a este projeto. Desde o início que um dos outros objetivos da Fundação era também a reabilitação da Igreja Matriz da Malhada Sorda, trabalho que neste momento já está bem encaminhado.

P – Além do prémio e da reabilitação da Igreja que outros projetos pretende a Fundação desenvolver na Malhada Sorda ou no concelho de Almeida?
R – Para já estamos a trabalhar muito de perto com Junta de Freguesia da Malhada Sorda e a tentar apoiar alguns dos seus projetos, nomeadamente um que já tem alguma referência na região, a festa da Senhora da Ajuda, que se realiza de 7 a 9 de setembro. No dia 7 temos uma peregrinação internacional que começa em Espanha e vai até ao santuário da Malhada, que junta umas centenas de pessoas. Além disso, tivemos recentemente o primeiro Duatlo da Raia Ibérica, em que também apoiámos a Junta de Freguesia, porque colaborar com as entidades locais faz todo o sentido. Desde o primeiro dia que apoiamos a cultura, neste caso mais a cultura religiosa, precisamente porque estamos a falar do padre José Júlio Esteves. Também editámos o nosso primeiro livro no ano passado, intitulado “Malhada Sorda e suas raízes”, que teve um sucesso enorme e já está na segunda edição, e fala sobre os viveres da Malhada Sorda desde a pré-história.

P – Acha que os projetos que a Fundação tenta realizar podem contribuir para a promoção da cultura e do turismo da Malhada Sorda ou são só uma forma de preservar a cultura da aldeia?
R – Promoção e preservação, sem dúvida. Nós continuamos, logicamente, com alguns projetos em carteira, que se ligam à promoção do património religioso e queremos fazer inclusivamente o desenvolvimento do turismo religioso. A história da Malhada Sorda é muito rica em registos de várias culturas e religiosidades que passaram por esta terra e dos quais ainda temos uma série de registos. O nosso objetivo é preservar e divulgar aquilo que temos, honrar os nossos ancestrais e não deixar esquecer as nossas raízes. Mas não nos vamos resumir só a religiosidade. Queremos também preservar alguns costumes ligados ou não a festas religiosas, que eram e que são muito fortes na nossa cultura, tudo isso é importante para nós preservar e dar a conhecer, partilhar.

P – Qual é a importância da preservação da cultura desta região do interior?
R – É extremamente importante. Há um fator que nos motivou logo, que é a desertificação desta região. Essa desertificação é preocupante, assim como é a desvalorização deste problema pelas entidades responsáveis, então nós trabalhamos com as ferramentas que temos. É com elas que vamos tentar valorizar aquilo que está a ser esquecido e as gentes que estão a ser esquecidas. E conseguimos isto através, por exemplo, do testemunho de pessoas, sendo que já tentámos de alguma forma registar uma série de testemunhos, tanto em termos fotográficos como em áudio, para podermos publicar e partilhar as suas histórias e a história e cultura daqui. Por outro lado, estamos a trabalhar com um historiador para podermos registar tudo de uma forma cativante, em que as pessoas possam dizer “isto foi a minha terra, isto é a minha terra”. E nós, filhos, netos e bisnetos das pessoas que já passaram por cá, temos que preservar isto, pois temos uma história rica e fantástica e faz parte daquilo que nós somos hoje. É nisto que acreditamos e é neste sentido que nós estamos a trabalhar.

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CONCEIÇÃO CARDOSO

Presidente da Fundação Família Luzia Esteves Pinheiro

Idade: 60 anos

Profissão: Neurotrainer

Naturalidade: Guarda

Currículo (resumido): Licenciatura em Geografia; Advanced Trainer e Instructor de NeuroOptimal

Livro preferido: “Os Pilares da Terra”, de Ken Follett

Filme preferido: Muitos

Hobbies: Caminhar e ler

Sobre o autor

Efigénia Marques

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