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8 mil azulejos em risco na Igreja de São Vicente

Mecenas privado poderá suportar intervenção global, orçada em 350 mil euros

O PolisGuarda tem em curso uma mega-operação para salvar cerca de oito mil azulejos na Igreja de São Vicente, no centro histórico da Guarda. Este valioso património da azulejaria setecentista portuguesa está a perder-se paulatinamente devido à deteriorização das condições físico-químicas dos materiais constituintes e à humidade.

O diagnóstico foi feito pela CA CO3, uma empresa especializada que preconiza uma intervenção «de fundo e urgente» para salvaguardar os 18 painéis em causa, «grande parte dos quais corre sérios riscos de se perderem». Para tal, o PolisGuarda espera contar com o apoio de um mecenas: «Trata-se de uma fundação nacional e neste momento tudo está dependente da sua disponibilidade. Sabemos que o projecto foi bem acolhido, mas só avançará quando essa entidade der o sim», refere António Saraiva. O director-executivo da sociedade realça, por outro lado, o trabalho «excepcional» da CA CO3, que «estudou graciosamente os azulejos e propôs técnicas para o seu restauro». A intervenção global custará 350 mil euros, dos quais 140 mil estão destinados especificamente à recuperação dos azulejos. Trata-se de uma obra que implicará o fecho temporário da igreja, «mas é por uma boa causa», esclarece o arquitecto, adiantando que a Diocese agradeceu o trabalho, pois «não tem meios para pôr termo à degradação que os painéis estão a sofrer». António Saraiva acrescenta que esta operação é uma «carolice» do Polis, que está a tentar «potenciar e criar» os meios para conseguir a requalificação de «um património que é nosso e poderá ser mais um factor de atracção para o centro histórico», espera.

A actual Igreja de São Vicente data do final do século XVIII e possui uma decoração valiosa constituída por painéis de azulejos figurados representado cenas da vida de Jesus, a Sagrada Família e a Via Sacra. As cenas mais representativas são o casamento de N.ª Senhora, a Anunciação, a Flagelação, a Fuga para o Egipto, a Adoração e cenas da Via Sacra. Estes quadros desenvolvem-se emoldurados por uma ornamentação rococó, também fantasiada no azulejo. Esta proposta de requalificação esteve em destaque no Iº Encontro de Património Raiano, realizado na Guarda na passada sexta-feira. Investigadores portugueses e espanhóis abordaram durante dois dias a temática patrimonial e analisaram vários exemplos de recuperação de património e de intervenções nos centros históricos dos dois países. Já o presidente da Câmara da Guarda defendeu a elaboração de uma carta regional ou transfronteiriça para divulgar e rentabilizar o património histórico existente nesta zona. «Era importante fazer um levantamento do património em todas as suas vertentes, não só o edificado mas também o património arqueológico e religioso», sugeriu Joaquim Valente, para quem esta área deve ser vista como «um recurso do ponto de vista turístico».

Luis Martins

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