No seguimento da crise em que está o Grupo Global Media, e em que títulos de referência como o “Jornal de Notícias”, o “Diário de Notícias” ou a TSF não pagam os salários ou o subsídio de Natal e podem encerrar, as dificuldades de sobrevivência da imprensa ocuparam um lugar de destaque na vida pública e mediática – é trágico, mas tem um aspeto positivo, pôs o país a discutir a importância do jornalismo.
Com tudo o que se tem dito, não é preciso repetir a importância da imprensa como pilar básico da democracia, mas, ainda assim, devemos reafirmar o papel determinante e essencial que o jornalismo tem numa sociedade livre e informada. E é neste momento que temos de apelar a todos para pensarem no que seria viver numa comunidade sem informação, no que seria a política sem perguntas ou o poder sem contraditório. Ou o que seria a nossa vida sem termos acesso a comunicação sobre cultura, educação, ciência, saúde, sobre o que se passa no país ou no mundo, sobre desporto ou sobre arte, espetáculo, cinema, teatro, poesia, livros, etc. É a imprensa, são os jornalistas, os jornais, as rádios e as televisões que nos fornecem toda a informação sobre tudo o que se passa à nossa volta. Em cada “notícia” que lemos, ouvimos ou vemos há um conteúdo que a montante alguém produziu, um jornalista. Podemos nem dar conta, mas cada vez que pegamos no telemóvel (smartphone) e abrimos a Internet podemos ir às redes sociais ou ver alguma mensagem, mas a maioria do tempo é para vermos conteúdos, lermos notícias, partilhas, “posts” ou comentários feitos originalmente por jornalistas. E o incrível é que nos parece natural ter acesso a todo esse manancial de informação gratuitamente. As muitas medidas reclamadas são reivindicações plausíveis e devem ser atendidas pela sociedade e pelos governos (central ou local), porque o jornalismo é essencial na vida democrática, um referente de liberdade e uma fonte de informação e conhecimento. Um serviço público!
Para lá dos apoios solicitados, João Canavilhas, professor da UBI, defende, em entrevista, nesta edição a criação de um fundo de apoio ao jornalismo financiado por um imposto a aplicar aos equipamentos pessoais de comunicação com acesso à Internet (“smartphones” e “tablets”) – uma taxa justa (2,5%), pois todos os utilizadores de equipamentos móveis vão ver ou ler notícias, fotografias, conteúdos que alguém produziu e que merece ser pago por esse trabalho. O professor universitário defende ainda que o Estado prescinda de um valor (2,5%) arrecadado em sede de IVA sobre os equipamentos móveis ou sobre os pacotes de dados móveis. E sobre o IMI municipal que poderia ser distribuído pelos media locais, pois a imprensa regional também é essencial na vida das pessoas nas comunidades locais (e pobre dos concelhos onde não há nenhum órgão de comunicação social, são atrasados e pobres económica, social e culturalmente), por isso a responsabilidade no apoio à comunicação social não pode estar apenas do lado dos governos centrais, também é responsabilidade das autarquias locais. João Canavilhas sugere mesmo uma percentagem de 2,5 pontos sobre equipamentos ou sobre o IMI pelo simbolismo do 25 de Abril enquanto referência para a atividade jornalística.
A crise da Grupo Global Media apenas veio dar visibilidade às dificuldades que há muito a comunicação social sente, em especial a imprensa, e mais ainda a imprensa regional e as rádios locais – neste país sem hábitos de leitura de jornais, de baixa literacia e onde apenas 11% dos inquiridos no Reuters News Report estão disponíveis para pagar por notícias, porque todos nos habituámos a essa gratuitidade e achamos normal não ter de pagar a quem trabalha nos jornais.
PS: O Jornal O INTERIOR volta a ser o 18º melhor jornal português no ranking mundial de meios de comunicação. Este jornal é o melhor da Beira Interior, o que tem mais notoriedade, reconhecimento e reputação global. Parabéns a O INTERIOR, a todos os seus profissionais, colaboradores, assinantes e leitores que ajudam a construir o melhor jornal da região e do interior de Portugal.