Agora que todas as forças políticas com representação parlamentar têm os seus candidatos a primeiro-ministro confirmados, as atenções direcionam-se para a próxima sondagem. Será a sua análise que levará as forças políticas a adequar o seu discurso eleitoral e a acalentar possíveis coligações governativas e entendimentos parlamentares a serem firmados após as eleições legislativas.
O BE e o PCP estarão à espera da primeira indicação quanto à viabilidade da reedição da geringonça e, em particular, do “preço base” a que poderão começar a licitar o seu apoio a um governo minoritário do PS. De mãos dadas com essa expetativa, está a preocupação legítima de que Pedro Nuno Santos possa “roubar” uma quantidade significativa de votos à base eleitoral destes dois partidos. A sondagem deve confirmar também o adensar da queda do PCP, que ainda não pagou a fatura pelo seu posicionamento em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia.
A IL já se convenceu dos danos que a mudança de líder está a infligir, pelo que a possibilidade de servir de “muleta” a um futuro governo minoritário do PSD se afiguraria como um cenário quase idílico. O PAN e o Livre estarão à espreita de sinais que lhes possibilitem ter um grupo parlamentar e se os astros se poderão eventualmente alinhar para funcionarem como os “fiéis da balança” de uma reedição da geringonça.
O Chega quererá confirmar a sua tendência de crescimento. Se Luís Montenegro mantiver a sua palavra, esse eventual aumento será o equivalente a pólvora seca em termos governativos. André Ventura continuará a ser um “deputado único”, mas com a sua “claque parlamentar” reforçada em números. Nada mais.
O PSD deixou claro que preferia enfrentar Pedro Nuno Santos a José Luís Carneiro. Se a perceção dos dirigentes sociais-democratas estiver correta, a mais recente sondagem deverá revelar um crescimento das intenções de voto no principal partido da oposição, pela conquista de espaço no chamado “centrão”. Entregue a uma liderança sem chama e com um discurso político confuso, nem o mais otimista dos sociais-democratas esperará encontrar uma descolagem significativa em relação ao PS.
Para os socialistas, a próxima sondagem será a primeira a refletir a saída de cena de António Costa, após nove anos à frente do partido (e oito anos à frente do país). Apesar do atraso com que parte para a corrida eleitoral, o PS é o partido que apresenta a maior margem de progressão. Primeiro, porque o congresso de janeiro deverá encerrar com a cristalização da imagem de um partido unido e revigorado. Segundo, porque Pedro Nuno Santos possui efetivamente uma visão para o país. Do sucesso da transposição dessa visão para um discurso claro e objetivo que aponta a políticas e medidas concretas dependerá, em muito, o alcance da progressão do PS.
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