O presidente da Câmara da Guarda, também presidente do Conselho de Administração (CA) da CulturGuarda, pondera reduzir «ainda mais» o quadro de pessoal da empresa municipal de forma a diminuir o seu desequilíbrio orçamental. Mas, entretanto, Joaquim Valente assume que vai ter que transferir mais dinheiro para compensar a perda de mais de metade do capital social e evitar a dissolução da empresa, ao abrigo do art.º 35 do Código das Sociedades Comerciais. «Temos que cumprir a lei», disse a “O Interior”, acrescentando que essa verba ainda não está definida. «Mas serão necessárias mais medidas de contenção», avisa.
Tudo se precipitou na segunda-feira com a saída de Francisco Dias. Aparentemente, o director financeiro da sociedade gestora do TMG parece não ter resistido a mais um balanço negativo da CulturGuarda. O economista regressou aos serviços municipalizados de Água e Saneamento da autarquia, a que pertencia, após ano e meio na gestão do Teatro Municipal da Guarda. Em sua substituição foi nomeado Américo Rodrigues, que passou a acumular aquelas funções com as de director artístico. A mudança é desvalorizada pelo autarca, para quem tudo não passou da «transferência» de um funcionário da Câmara. «É uma medida para ajudar a equilibrar as contas da CulturGuarda, onde a sua permanência já não se justifica, pois há técnicos suficientes para fazer a gestão daquela casa», explicou, recusando falar em demissão. «Sabemos de antemão que este tipo de empresas não vai dar lucro, mas é preciso adoptar medidas conjunturais para controlar as contas», acrescenta Joaquim Valente. Já a leitura de José Gomes é mais radical: «Francisco Dias saiu em conflito dentro da empresa municipal ou com o Conselho de Administração», sustenta. Mas o vereador do PSD acrescenta que o economista «não pode ser responsabilizado pela gestão, porque se limitou a cumprir ordens e a gerir o que a Câmara lhe dava».
Na sua opinião, o director financeiro «não tinha possibilidade de se mexer», uma situação que só se ultrapassará quando for criada uma única empresa municipal para gerir as actividades culturais e desportivas. «Com uma gestão empresarial e independente do poder político, que apenas deve dar orientações, elaborar orçamentos e pedir contas no final do ano», idealiza. Para José Gomes, o modelo praticado na CulturGuarda só está «a contribuir para impedir que a empresa desenvolva eficientemente o seu objectivo» e, se assim continuar, as demissões «serão permanentes», augura. No entanto, o lugar de Francisco Dias – entretanto incompatibilizado com Américo Rodrigues – ficou a prazo desde que foi conhecido, em Junho último, o balanço dos primeiros nove meses de actividade do TMG. O problema é que o relatório de contas do primeiro semestre deste ano não é melhor. Divulgado na última reunião do executivo, o documento revela um Resultado Líquido Negativo de 214 mil euros e um passivo superior a 482 mil euros – quando era de 321 mil euros em Dezembro de 2005. Neste período, a empresa ficou mais endividada junto da banca (228 mil euros, contra os 100 mil contratualizados no primeiro ano de funcionamento), enquanto as dívidas a fornecedores passaram de mais de 77 mil euros no final de 2005 para 98.795 euros em 30 de Junho último.
Só parque de estacionamento dá lucro
O executivo da Câmara da Guarda está agora mais preocupado com a saúde financeira da CulturGuarda. «Não vamos esconder a cabeça na areia, há problemas financeiros e a situação é preocupante», admitiu Virgílio Bento na última reunião. O vereador responsável pelo pelouro da Cultura, e vogal no CA da empresa municipal, considera que este último relatório de gestão «mostra que há problemas com os custos permanentes do equipamento». Curiosamente, segundo o relatório, apenas o parque de estacionamento deu lucro (6.890 euros), pois até a exploração do café-concerto não tem saído do vermelho. Desta vez, o passivo é de quase 8 mil euros, isto sem pagar rendas ou ter custos de manutenção, totalmente suportados pelo proprietário do complexo, a Câmara Municipal. Quem está desencantado com esta situação é o presidente Joaquim Valente: «Não pode ser só o parque de estacionamento a dar lucro, outros sectores do TMG terão que ser rentáveis, nem que isso implique adoptarmos um outro modelo de gestão», afirmou, lembrando que a má situação financeira da autarquia a tal poderá obrigar. Já Ana Manso foi demolidora: «A manter-se a mesma tendência, chegaremos ao final de 2006 com o dobro do défice do ano transacto. Está claro que o TMG tem custos desajustados em relação ao orçamento da Câmara, pelo que está na hora de repensar o modelo de gestão das empresas municipais, de forma a criar economia de meios e mais eficácia», recomendou.
Luis Martins