Talvez o leitor não tenha reparado, porque para dar conta teria de ter lido a crónica, o que muito provavelmente não terá feito até ao fim, que a crónica da semana passada não continha graçolas, como habitualmente. Não digo que a crónica habitualmente tenha piada, apenas que muitas vezes tem graçolas. Se o leitor lhes encontra piada ou não, isso é uma opção livre que está à sua disposição.
Se o leitor me perguntar a razão para o Observatório da semana passada estar isento de graçolas, talvez soubesse a resposta se lesse a coluna com atenção e regularidade. Como não o faz porque salta logo para a última página, lá terei de lhe pedir novamente que não me interrompa com questões enquanto estou a escrever a crónica.
A semana passada não me atrevi a ser engraçadinho porque estava em Itália. E como é sabido, o governo de Itália é de extrema-direita. E com a extrema-direita no governo não me atrevo a fazer piadas. Porque é perigoso fazer piadas onde governa a extrema-direita. Porque é extrema e porque é direita. A esquerda e a extrema-esquerda é que são muito engraçadas. Nunca ninguém foi preso por fazer piadas num país comunista. Talvez até houvesse uns heróis que tentassem. Só que tal como o leitor não acha graça às minhas, os apparatchiks também não se riam, por isso não eram piadas.
Estava frio em Itália. Já se sente o gelo da extrema-direita. Veja-se, pelo contrário, o calor provocado pelo frentismo progressista em Espanha e pelo social-costismo em Portugal. Com Sánchez e Costa, é sempre tudo a subir. O termómetro, os impostos e as pessoas dependentes do Estado.
Há uns pategos que dizem que o governo italiano de Meloni não é extremo ou radical, por, entre outras coisas, apoiar o esforço de guerra da Ucrânia e mostrar vontade de fortalecer as instituições da União Europeia. Mas se o “Público” e o “Expresso” dizem que a extrema-direita que governa a Itália é mesmo muito perigosa, porque quer coisas horríveis, é porque é. Felizmente, a extrema-esquerda-radical portuguesa é amorosa e cheia de boas intenções, tais como acabar com a União Europeia, tirar Portugal da zona euro e mandar a NATO às urtigas.
Dizem que em Portugal as pessoas vivem pior, mas o que eu vi com os meus próprios olhos é que já nem em Turim os Uber são Ferrari.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia