Números radicais

Pedro Nuno Santos diz que o PSD e a IL são partidos radicais. O PSD diz que Pedro Nuno Santos é um tipo radical. Os radicais não gostam nem de um nem de outro. Os radicais pensam de maneira parecida, mas detestam-se uns aos outros. Os radicais são muito barulhentos.

Os moderados, que se deviam entender bem entre si, nem sempre têm opiniões firmes sobre tudo, e por isso passam por frouxos, aos olhos dos radicais. E ninguém quer votar em frouxos.

Ser moderado é não querer rebentar com o Estado social nem querer exterminar a propriedade privada. É não desejar o fascismo nacionalismo nem o socialismo identitário. É ter dúvidas sobre práticas como o aborto e a eutanásia sem querer mandar para a prisão as pessoas que as façam. É pensar que os equilíbrios entre a região e a nação, entre o país e a Europa, entre o continente e o mundo, são complexos e não têm respostas simples. É saber que receber emigrantes e defender a identidade cultural é uma equação que não deve excluir nenhuma das partes.

Ser moderado é, no fundo, ficar perplexo perante um mundo cheio de fáceis certezas absolutas para problemas de complexidade maior.

Ser moderado é, muitas vezes, encolher os ombros, não ter nenhuma resposta definitiva. É, principalmente, saber que a vida é mais do que a raiz quadrada de alguma coisa. Os radicais é que acreditam nas raízes.

Os moderados podem parecer totós, mas o mundo foi melhor durante uns anos, enquanto esses totós se foram entendendo para evitar que os radicais estendessem as raízes até à árvore da governação.

O problema chega quando os moderados, em vez de estender os braços aos outros moderados, lhes chamam radicais e abrem a porta aos que o são verdadeiramente. Até ao dia em que os radicais, que na verdade desprezam os moderados, ganham o poder de atirar os moderados para a sarjeta – ou pior, para a prisão ou para o exílio.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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