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Os comboios passam e a estação fica

Por obrigação familiar, tive que ir recentemente à estação da CP do Fundão (…). E foi com pesar que vi o chão da entrada, no exterior, esburacado, com cascalho solto que pode ser atirado para trás por algum veículo em manobra. Já a gare estava suja e degradante, as casas de banho repugnantes e mal cheirosas.

A CP pode alegar muita coisa – a maldita crise! – para não fazer alguns restauros, mas a autarquia, com um pouco de bom bairrismo, podia ajudar a manter esta porta de entrada no concelho limpa, bonita e acolhedora, para quem parte e chega. Ali falta também um telefone público e um multibanco. Quanto ao balcão de atendimento, já de aspecto “moderno”, estava todo embaciado e o pior era que o funcionário de serviço não devia ser do Fundão. Os velhos, como eu, devem recordar-se que esta estação era de uma azáfama extraordinária, principalmente no período áureo das Minas da Panasqueira, assim como nas grandes feiras e mercados. Mas isso são tempos passados, quando os passageiros iam a Lisboa, levavam os cestos feitos em Alcongosta repletos de bons pedaços de galinha frita, coelho, queijo, presunto, pastéis de bacalhau, água e o indispensável vinho tinto. As carruagens tinham bancos de madeira envernizada, que, na hora própria, serviam de mesa para uma toalha de linho receber os petiscos, que, em boa amizade, se ofereciam aos companheiros de viagem. No final havia força redobrada para cantar a “Senhora do Almortão”.

Porque não a CP organizar uns passeios, tipo excursão, em carruagens deste tipo e colocar os comboios (…) ao serviço do Turismo. Pois se há excursões de barco, porque não se hão-de fazer de comboio, sendo que nas estações terminais deveria haver uma loja para vender tudo o que de bom essa região tivesse. Assim, talvez as estações ferroviárias tivessem andamento.

António do Nascimento, Guarda

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